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No Brasil, se incluídos os picaretas, há milhares de repórteres parlamentares. Em compensação, existem poucos repórteres judiciais, um tipo de jornalismo mais valorizado nos Estados Unidos e na Europa.
Há poucos dias, o presidente interrompeu a sessão da Suprema Corte dos Estados Unidos para homenagear o jornalista Lyle Denniston, que se aposenta aos 86 anos, após 58 anos de atividade ininterrupta na Corte.
De seu posto no recinto do tribunal, Denniston cobriu julgamentos históricos como Brown versus Board of Education, sobre a integração racial nas escolas; Roe v. Wade, em que a Corte autorizou o aborto; Bush v. Gore, que decidiu a eleição de 2000.
Vida dura de repórter, principalmente no início da carreira. Minutos após confirmada a decisão, ele devia ditar pelo telefone uma notícia que mudaria a história do país. Foi repórter do Wall Street Journal, Baltimore Sun, Boston Globe e mais recentemente do SCOTUSblog. (Devia existir um blog como esse no Brasil.)
“Seus posts claros, rigorosos e isentos narravam os argumentos e opiniões dos ministros e logo se tornaram leitura obrigatória dos observadores da Corte pelo país”, escreve Jesse Wegman, no Editorial Observer do New York Times de hoje.
Traduzir juridiquês para língua de leigo talvez tenha sido o maior desafio desse repórter – muito maior do que atribuir as ministros decisões tendenciosas, partidárias ou preconceituosas. Os ministros votam como votam. O jornalistas só precisa trabalhar duro, ter bom arquivo, ser claro. O leitor descobrirá qual é a do magistrado.
Lyle Denniston não costuma relacionar o ministro com o presidente que o nomeou. Acha que não é relevante. Até hoje sustenta que a decisão no caso da contagem de votos da Flórida, que deu a vitória a Bush sobre Gore em 2000, não teve coloração política. Pode ser ingenuidade, mas ele acredita que a Corte decidiu o que achava melhor para o país.