
Quem compra apartamento em andar alto imagina que fugiu do barulho, da poluição e dos problemas da cidade – em suma, que chegou ao lado bom da vida.
Há dois tipos de curitibanos que acreditam no Mito do Andar Alto.
1 – Os românticos. Converteram-se sob a influência do Paulinho da Viola. Visto aqui do alto mais parece um céu no chão. Ou admiram o MC Tikão. Graças a Deus, missão cumprida! Mais um guerreiro vida loka que venceu na vida!
2 – Os pragmáticos. Ouviram a voz vibrante de corretores que apontam a vista privilegiada, o sol de todos os lados, a valorização progressiva.
Compartilham uma ilusão: o condomínio vertical confere status. Como o Castelo da Montanha. Lá em cima o Rei, no meio os cortesãos, em baixo a turma da beira do rio rezando para a enchente não chegar onde chegou no ano passado.
Só quando toca o telefone o Homem do Alto conhece a verdade: os problemas subiram com ele. O rapaz da empresa que fornece banda larga está avisando que o duto não suporta mais um cabo.
Desce para olhar e descobre com horror o ouriço de fios em torno do poste, o duto entupido de cabos anacrônicos, das antenas para os canais de TV locais, das parabólicas, da Banda Ku, da GVT, da Brasil Telecom, da Neo e de outras que ninguém lembra mais o nome. Não há lei que obrigue a prestadora de serviço a retirar o cabo inativo pela simples razão que a prestadora não presta mais – faliu.
Introduzir um cabo novo no duto entupido é semelhante ao mito de Sísifo, aquele condenado a levar a pedra ao alto da montanha. As interdições são tantas que o único certo é o rapaz do cabo novo. Só pagando um extra para um baixinho ex-funcionário da Oi que tudo conhece sobre as entranhas do veterano arranha-ceu.
Quem paga? O morador? O condomínio? A prefeitura, responsável pela fiozera nos postes?
Agora, para quem chega ao alto do prédio inaugurado há 20 anos, assistir à Premier League no telão de 100 polegadas virou sonho de Sísifo.
A menos que contrate o baixinho ex-Oi.
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P.S. – O texto acima recebeu um ponto final antes da aprovação pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), na terça-feira, 2 de dezembro, da proposta que define as regras para o compartilhamento de postes entre empresas elétricas e de telefonia. Uma piada. Há sete anos burocratas discutiam as novas regras.
Antes de iniciarem a comercialização dos espaços nos postes, as distribuidoras precisarão elaborar um plano de regularização dos postes. É a missão impossível de acabar com a fiozeira dos cabos ociosos, estruturas superlotadas ou clandestinas.