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Estudantes de Maotanchang. Aqui os salários dos professores são três vezes maiores do que no resto da China.(foto NYTimes)
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.O que é esse “Brasil educador” que a presidente Dilma anunciou em seu discurso de posse? Um lugar em que as crianças de seis anos sabem a tabuada? Um país capaz de triplicar o número de técnicos em cinco anos – e formar mão-de-obra com padrão internacional? Uma nação com investimentos em ciência e tecnologia para disputar a liderança da pesquisa no mundo?
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O governo de Dilma tem dinheiro para montar um projeto parecido com a escola de Maotanchang. Só um, para servir de exemplo.
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Ou será apenas uma sacada dos marqueteiros – o grande tema para mais discursos nos próximos anos? No momento não há professores bem treinados, nem escolas bem equipadas, nem famílias envolvidas com a escola, nem alunos com vontade de estudar. O ensino é segregado – um aluno de seis anos da escola particular sabe mais que um de oito da escola pública.
Recomendo ao novo ministro da educação, o ex-governador do Ceará Ciro Gomes, a leitura de um artigo publicado no New York Times Magazine intitulado Inside a Chinese Test-Prep Factory. O jornalista Brook Larmer foi morar durante meses na cidade de Maotanchang, onde 20 mil estudantes passam três anos se preparando para o terrível gaobao – o teste de três dias, parecido com o Enem, que diz se o candidato está preparado para entrar numa das 120 universidades de primeira linha da China.
As aulas são das 6h20 até às 22h50. Seis dias por semana. Todo domingo há um simulado pesado. Depois, os estudantes têm três horas livres. Só. Na segunda-feira começa tudo de novo.
Há dois gaobaos por ano, um focado em ciências, outro em humanidades. Nove milhões de chineses tentam alcançar a até agora insuperável linha dos 750 pontos, que identifica a excelência absoluta. Acima de 600 pontos podem conseguir vagas em universidades de segunda linha. Mais de 650 pontos garantem uma vaga nas 120 do topo.
É basicamente decoreba exaustiva e frequentemente desumana. Há dois anos, um estudante postou na rede social a foto da turma. Jovens arcados sobre livros com sondas de alimentação intravenosa espetadas nos braços. Parece um filme de horror.
Na escola são proibidos celulares e laptops. Os quartos não têm tomadas. A escola não possui cantina. Como eles comem? As mães mudam para junto dos filhos – a maioria saídos do meio rural – em quartos alugados a peso de ouro, onde há lugar apenas para uma cama-beliche, mesa de estudo e uma panela de cozinhar arroz.
Todos os professores são homens, que não hesitam em aplicar punições rigorosas – como permanecer horas em pé, de castigo por desatenção. As turmas de 100 a 150 alunos lembram os cursinhos do Brasil, com professores falando por megafones. Na verdade, não são professores, são equipes de seis – um mestre e cinco auxiliares – que cuidam de grupos de 20 a 25 alunos.
O sistema de isolamento e dedicação integral dá resultado. Em 1998 a escola aprovou 98 alunos no gaokao. Em 2013 foram 9.312, cujos professores receberam prêmios em dinheiro (500 dólares se o aluno for aprovado numa das 120 universidades top).
Em alguns casos, os prêmios são ainda maiores. A aprovação do estudante Xu Peng na exclusiva Universidade Tsinghua, considerada o MIT (*) da China, representou 50 mil dólares de recompensa. O dinheiro foi dividido entre a família, a escola onde ele fez o ensino médio e, naturalmente, os professores.
Tudo isso faz parte do “grande salto para a frente” decretado em 1999 pelo governo chinês, que triplicou o número de universidades de alto nível e mexeu com todo sistema escolar.
Claro que o Brasil não tem dinheiro para fazer um investimento tão grande.
Mas, se Dilma quiser, o Congresso ajudar e a Justiça não atrapalhar, pode começar a pensar como um chinês. Significa gratificar professores cujos alunos têm elevado desempenho e punir (lá, eles demitem) quem não está comprometido com o resultado do aluno e da escola.
Deve haver um jeito de premiar as famílias que se sacrificam para que o filho passe no ITA.
E, com certeza, há meios de reproduzir no Colégio Estadual do Paraná as práticas adotadas em boas escolas particulares, como a Alfa, de Cascavel, e o Dom Bosco, os dois melhores no Enem.
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(*) MIT – Massachusetts Institute of Technology. Fundado em 1861, em Cambridge, perto de Boston, EUA. Tem 1030 professores, onze mil alunos, 80 prêmio Nobel.