PODE PEDALAR NA FRENTE DO ÔNIBUS, CARA. É SEU DIREITO 

É saudável a convivência de ônibus e bicicletas. Foto do autor

1689 foi um ano bom para a humanidade. O Parlamento inglês aprovou a Declaração de Direitos, que limitou o poder da monarquia e garantiu direitos fundamentais aos cidadãos. Entre eles, o de ir e vir.

Uma das consequências é isso que se vê hoje em Londres, Paris e outras capitais do mundo: ruas calmas, ciclistas nas canaletas, que dividem com os ônibus.

Pedalam sem pressa, porque o ônibus geralmente vem a 20 por hora – também não tem pressa em concluir seu trajeto de quatro ou cinco quilômetros. Quem precisa ir mais longe, chegar mais rápido, vai no metrô que corre seguro no subsolo.

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Uma questão ética no Planeta Diário, denuncia o New York Times. Assunto bom para jornalista refletir

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Penfield, New York, USA – October 30, 2009: Young man dressed in a Superman costume pulls off his outer shirt and tie.

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Em 20 dias, Superman, do diretor James Gunn, teve mais de três milhões de ingressos vendidos. O absoluto sucesso do velho herói dos quadrinhos leva a discutir questões profissionais embutidas na história.

Se é verdade que o Super-Homem não resiste a um pedaço de kriptonita, também é verdade que o repórter Clark Kent seria reprovado em um teste de ética jornalística.

Quem diz isso é George Gene Gustines, que escreve há vinte anos sobre histórias em quadrinhos para o New York Times. Em artigo publicado dia 11 de julho, ligado ao lançamento da nova versão cinematográfica do super herói, Gustines lembra que desde 1938, quando apareceu pela primeira vez no jornal, Clark usa informações que chegam à redação do Planeta Diário para conseguir furos e ganhar promoções. O texto integral está em https://www.nytimes.com/2025/07/11/arts/superman-lois-lane-clark-kent-journalism.html

Exemplo: em 1986, a repórter Lois Lane, escalada para cobrir as atividades do Super-Homem, está para conseguir um furo. Mas Clark, informadíssimo, pula na frente, obtém uma exclusiva e sobe um degrau na hierarquia da redação.

Gustines ouviu um dos mais conhecidos escritores de HQ, Mark Weid, que tem um olhar condescendente para as espertezas e manhas do repórter Clark Kent.
“É verdade que ele conseguiu seu emprego escrevendo as melhores histórias sobre o Super-Homem. Isso prova apenas que ele é bom em tirar vantagem do sistema.”

Kelly McBride, do Instituto Poynter, que analisa a ética nas redações de grandes e pequenos veículos de imprensa, não concorda: “Alguem capaz de produzir manchetes todo o dia, não pode ser também o jornalísta que divulga os feitos em primeira mão”.

Em Homem e Super-Homem (2019), o escritor Marv Wolfman e o desenhista Claudio Castellini revelam que Clark mudou para Metrópolis por causa do Planeta Diário, que, segundo Clark, “produz imagens indeléveis com palavras do jeito que nenhum outro jornal jamais produziu.” Está apaixonado pela prosa de Lois Lane: “Ela é o máximo. Suas matérias duras, reais, corretas, engraçadas e inteligentes são produto de uma grande escritora.

Wolfman está entre os que não veem problema em Clark escrever reportagens sobre o Super-Homem. “Ele está narrando fatos, sem opinar sobre eles”.

Mais tarde as coisas se complicam. Lois, agora casada com Clark, é promovida a chefe de redação, ele é o principal repórter. O redator Rainbow Rowell e o desenhista Cian Tormey apontam o conflito de interesses que é expressado por Lois.

-Não posso colocar meu papel de repórter a frente de meus deveres como Super-Homem. Eu sou o Super-Homem.

-Sei, Clark, ela replica. –E eu sou a editora-chefe.

Kelly McBride (www.poynter.com) pondera que Lois não pode, como chefe de redação, supervisionar o trabalho de seu marido. Há um claro conflito de interesses.

A solução é encontrada quando Lois transfere Clark para a reportagem geral. Ele reclama, ela confirma a decisão com um mantra do jornalismo.

-Não existem fatos pequenos. Existem repórteres que não veem as grandes histórias escondidas atrás dos pequenos fatos.

-Você já escreveu grandes obituários? – ele debocha.

Com o tempo fica claro que Lois tem razão e Clark revela-se excelente em matérias de interesse humano. Seus textos começam a ganhar espaço na primeira página e parecem indicar um novo caminho para o bom jornalismo.
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Morre a doutora Dúlcia, engenheira que cuidava da Curitiba que ninguém vê – e via a Curitiba que ninguém cuida

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A doutora Dúlcia Auríquio, falecida ontem, foi uma heroína de Curitiba.

Engenheira recém formada, prestou concurso, assumiu um cargo no setor de obras e nunca mais saiu de lá. Estudiosa, devotada ao serviço público – à missão. Eis alguém que merece ser nome de rua, de praça ou – melhor do que tudo – ser nome de rio.

Seu carinho pelos rios da cidade – Passauna, Barigui, Balém, Atuba – era tanto que todo mês de outubro vestia botas impermeáveis e se enfiava pela rede subterrênea de rios encaixotados e túneis de escoamento de água de chuva. Aos auxiliares ditava relatórios sobre os pontos de estrangulamento, onde a rede estenosada poderia não resistir às chuvas do verão e provocar inundações.

Quem acompanhou essas inspeções relatava horrores. Os curitibanos descartavam no rio tudo que pareçia inútil: cobertores, panelas, louça sanitária, sofás, a imensa televisão da sala com seu tubo de raios catódicos cheio de chumbo, mercúrio, bário e outros venenos mortais. Era ainda maior a quantidade de colchões, edredons, isopor, brinquedos de plástico, pneus, toneis e outras inutilidades.

Os relatórios não ficavam na Secretaria de Obras – iam para a mesa do prefeito onde inspiravam campanhas educativas, como as de Jaime Lerner (SE-PA-RE e troca de lixo por alimentos orgânicos, para só citar as mais afamadas). Os prefeitos gostavam da doutora Dúlcia e ai deles se não gostassem. Um prefeito de Curitiba desinteressado da questão ambiental? Melhor ficar longe de alguém assim.

Um dia, para entender Curitiba, pedi ajuda de sua sobrinha Lucélia e consegui uma longa entrevista.

-A gente pode almoçar com ela?

-Só se for no Colibri.

O fraco da doutora Dúlcia era a cozinha do restaurante Colibri, na Lisimaco da Costa, onde às vezes o prefeito ia almoçar com algum convidado.

Durante mais de duas horas anotei a história daquela engenheira formada na Universidade do Paraná no tempo em que mulheres não faziam engenharia. Antes dela só a pioneira Enedita Alves Marques e Franchete Garfunkel, depois Rischbieter, que também era devotada funcionária da cidade. É bom repetir: da cidade. Elas não trabalhavam para a prefeitura, muito menos para determinado prefeito. Trabalhavam para a cidade de Curitiba.

Ou talvez seja melhor mudar a preposição: trabalhavam pela cidade de Curitiba.

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Saiu no Marca

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ggghghg

Coisas que você pode cxozinhar em menos de 10 minutos.

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Em caso de chuva, frio e internet quebrada

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gghhhjh

Na estante de ficção, muitas traduções.

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Quem vai à praia no inverno sabe que pode viver momentos dramáticos quando chove, faz frio e a internet cai. Para se garantir leve uns livros. Se são bons ou ruins você descobre depois.

Na Livraria Curitiba da Boca Maldita, nem olhe para os mais vendidos, só verá autoajuda. A Coragem de Ser Imperfeito, de Benny Brown, Pai Rico, Pai Pobre, Hábitos Atômicos, de James Clear. Arre!

Na outra prateleira, traduções. Temperança, de Beverley Watts, O Fogo Eterno, de Rebecca Ross, Rei da Preguiça, de Ana Huang. Quem é Ana Huang? Filha de chineses, nasceu na Flórida e, numa entrevista, afirmou: “O processo de escrita nunca é fácil, mas estou aprendendo a trabalhar com ele, em vez de contra ele”. Guarde distância dessa sino-americana.

Continuando a busca você achará Colleen Hoover. Confira na Wikipedia. Margaret Colleen Fennell (Sulphur Springs (*), 11 de dezembro de 1979), depois Hoover, é uma escritora norte-americana que, de acordo com a Editora Record, vendeu 1.489.784 livros no Brasil em 2023. No mundo vendeu oito milhões. Mais do que a Biblia.

Compra ou não? Para decidir, vá ao ABC da Literatura, de Ezra Pound (**). Na página 83, Pound ensina que muito rancor crítico foi gasto inutilmente pela incapacidade das pessoas reconhecerem que há dois tipos de literatura.

A literatura do tipo A é aquela que você lê para “desenvolver suas capacidades, com o objetivo de conhecer mais e perceber mais”.

Os livros do tipo B são concebidos e utilizados como repouso, narcótico, ópio, leitos mentais.

Collen Hoover é do tipo B.

Uma formuláica tipo B. Com a fórmula do século 21. Os personagens são jovens de vinte e poucos anos. Ao contrário do passado, agora eles não são separados pelos pais porque as famílias se odeiam. Nem pela sociedade porque ela é rica e ele pobre. Nem pelo preconceito de cor ou religião. Eles são separados chan chan chan chan pela própria falta de interesse em amar.

Pelo vazio interior.

Ah, mas isso é do século passado. “Você não sabe amar, meu bem, não sabe o que é amor/ nunca sofreu… Isso o Chico e o Carlinhos Guinle escreveram em 1973”.

Eles nunca ouviram falar no Chico Buarque. Estão ocupados com os compromissos, as redes sociais, as modas mutantes. E com sexo, desde que seja casual. E meio depravado. Hoover teve sucesso com seu romance erótico.

Só que, de repente, o twist. Aparece um compromisso, eles vão morar num apartamento moderníssimo, tipo reality show, como parte de um negócio e descobrem a felicidade de conversar sobre poesia no café da manhã, enquanto pesam na balança indicada pela food stylist e conferem na tabela a quantidade de proteína em cada ingrediente.

Um ovo = 13 gr. A felicidade é filha da precisão.

Hoover escreve para jovens adultos até 35 anos. Garanto que com ela você passará horas em estado de graça, feliz e entorpecido. Mas cuidado porque seu cérebro poderá exigir doses cada vez maiores dessa literatura B para você continuar a se sentir um adulto de até 35 anos.

Em resumo, só leia Colleen Hoover se for voluntário de um experimento controlado.

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(*) – Sulphur Springs, como o nome indica, era um balneário de águas sulfurosas.

A Dorizon deles.

(**) – Se Ezra Pound era nazista, minha senhora? Parece que era. Mas o que tem isso a ver com literatura?

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Sob um céu de horror alaranjado

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Foto do autor, às 17h47 de ontem.

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Os tons laranja que pintaram o céu de Curitiba na tarde de ontem não são belos. São sinistros.

Fique esperto, irmão curitibano. O céu laranja avisa que seu pulmão está sendo agredido por agentes poluentes malignos. Eles causam – pegue o bloquinho para anotar – asma, bronquite, pneumonia, enfisema, tuberculose e DPOC, que é a Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica.

Ontem, a taxa de PM era 72, segundo a AccuWeather.

Ruim.

As partículas inaláveis finas (PM) são partículas poluentes que podem entrar nos pulmões e na corrente sanguínea. Por isso a gente tosse, tem dificuldade de respiração, a asma piora e o corpo sofre com o desenvolvimento de doenças respiratórias crônicas.

Por que isso acontece? Um dos motivos, talvez o principal, é que nesta cidade circulam diariamente dois milhões de automóveis. onibus e caminhões. Todos movidos a gasolina ou óleo diesel. Desculpe, todos não, há uns oito mil carros elétricos ou híbridos circulando por aí.

São dois milhões de motores emitindo monóxido de carbono, óxidos de nitrogênio, hidrocarbonetos, óxidos de enxofre e as partículas inaláveis, além de aldeídos e outros compostos perigosos. Como são muitos, não cabem nas ruas. Nos engarrafamentos, a produção de agentes tóxicos aumenta.

Seria diferente se a gente tivesse brigado pelo bonde e outros veículos sobre trilhos. Motores elétricos são infinitamente menos poluentes. Se o amigo tiver um tempinho, dê uma olhada em Os Trilhos de Curitiba.

A dissertação de mestrado de Olga Mara Prestes, da PUC, pode ser encontrada em https://archivum.grupomarista.org.br/pergamumweb/vinculos/tede/olga.pdf.

A autora analisou projetos e conversou com alguns de seus autores, como os arquitetos Lubomir Ficinski, Sergio Rizzardo, Reginaldo Reinert e os engenheiros Euclides Rovani, José Alvaro Tardowski, Ubiratan de Almeida e Luiz Fila. Aparecem, na voz deles, os projetos absolutamente viáveis, oportunos, adequados que Curitiba rejeitou.

Agora o castigo chegou. Poluição e engarrafamento, além do céu de laranja horror que paira sobre nos.

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Leia com atenção. A frase pregada na janela do ônibus tem uma pegadinha

A educação pública do Paraná vem perdendo alunos. A evasão escolar está aumentando.

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Dois conselhos iniciais.

A primeira é do ministério da Educação, que adverte para o perigo de comparar rankings de educação.

O segundo é das organizações internacionais que cuidam da educação. Elas avisam que o Brasil continua na parte de baixo do ranking. No segundo bloco. As notas dos brasileiros estão muito abaixo das médias registradas pelo países da OCDE, que é a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico.

De fato, o Ideb (Índice de Desenvolvimento da Educação Básica) coloca o Paraná em primeiro lugar no Brasil. Média acima de 6, como Santa Catarina, Rio Grande do Sul, São Paulo e outros Estados. Diferença de décimos.

Mas atenção: esse Ideb é a composição dos resultados das escolas estaduais e municipais. O investimento da primeira à quarta série é dos municípios.
O município de Curitiba, por exemplo, tem ótimo Ideb. A rede pública municipal é destaque nacional.

E atenção de novo: o Ideb é aplicado tanto em escolas públicas como particulares. A média em português e matemática das escolas particulares do Paraná é dois pontos mais alta que a das escolas estaduais. Puxa a media para cima.

Em resumo, a propaganda colada no ônibus é abobrinha. É impossível avaliar o investimento do Estado em educação básica pelo Ideb.
E não existe um ranking nacional de investimento em educação.

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Juliette Binoche é um bom motivo para você assistir a esse filme. Mas não o único

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Será que Marianne não imagina que está tirando o emprego de alguem que necessida dele? Ou imagina otimista que tudo vale a pena para expor as desumanas condições de trabalho das faxineiras dos ferries?

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Não sei se ela é a melhor atriz do cinema francês, mas a presença dela justifica a compra do ingresso. Binoche raramente erra na escolha de seus papeis e este Entre Dois Mundos não é exceção.

O filme de Emmanuel Carrère (*) conta a história de Marienne (Binoche) que, em meio à crise geral de emprego, consegue um trabalho como faxineira. Recebe menos de 8 euros/hora, pagamento miserável para os padrões europeus, não tem férias, muito menos plano de saúde ou licença-maternidade, mas era pegar ou largar.

Como o tempo ela vai aprendendo o serviço e assume um posto na equipe de limpeza do ferry Ouistreham, que faz a rota Caen-Portsmouth duas vezes por dia. Um trabalho cruel, que começa pontualmente às 6h (quem faltar ou atrasar perde o emprego) e vai até às 22h30. Há 230 cabines para trocar a roupa de cama, toalhas e limpar o banheiro, 4 minutos por cabine.

O trabalho extenuante e a ausência de tempo para ligações sociais cria uma relação de camaradagem entre a equipe mista da faxina. (Tirando Binoche, os outros personagens não são atores profissionais). Marienne vai conhecendo as companheiras de trabalho – aquela gente que vive de salário mínimo – e desenvolve amizade com várias colegas, principalmente com Chrystèle (Helène Lambert), mãe solitária de três filhos.

Aqui e ali a câmera mostra Marienne tomando notas em seu caderninho. Aos poucos descobre-se que ela é na verdade uma escritora de sucesso que finge ser mulher desempregada e abandonada pelo marido para colher material para o próximo livro.

A partir desse momento o público passa a julgar se a denúncia das condições brutais de trabalho das trabalhadoras nos ferries justifica o artifício. “Estou enganando essa gente, mas é para o bem deles” – isso é ético?

A dificuldade para decidir está principalmente na qualidade da intepretação de Juliette Binoche, que aos 61 anos e um Oscar assume cada vez mais a condição de estrela maior do cinema. Em momento algum a gente deixa de simpatizar com Marianne e seu livro-reportagem sobre as faxineiras do ferry. Mas os vinte e poucos espectadores da sessão de terça às 18h30 no Cineplex Batel saíram da sala 3 desconfiando que certo mesmo é o que determina Chrystèle ao decidir se afastar para sempre da escritora rica: “Chacum à son place!”.

Cada um no seu lugar.

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Emmanuel Carrère

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(*) Emmanuel Carrère é um diretor esporádico. Seu filme anterior The Moustache é de 2005. Este é de 2021 – ninguém sabe porque só agora chegou aqui.

Entre os dois filmes, Carrère escreveu o monumental O Reino, best-seller vendido na França em edições sucessivas que somam centenas de milhares de copias. O livro, que para alguns críticos é uma obra prima, reconta os primordios do cristianismo e investiga as vidas de São Paulo e São Lucas.

Carrère descreve como dois homens, Paulo e Lucas, transformaram uma pequena seita judaica – centrada em seu pregador, crucificado durante o reinado de Tibério e que acreditavam ser o messias – em uma religião que em três séculos transformou a fé no Império Romano e conquistou o mundo.

Em português a edição é da Companhia das Letras, tradução de André Telles.

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Fim de domingo

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Melhor carregar no colo do que ter que lavar a patinha com água clorada.

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Na tarde de domingo o esgoto estourou na Praça 29 de Março, antigo Campo do Poti. Pelo cano avariado corre a sujeira das Mercez misturada com água da chuva que agora ameaça inundar a rua Brigadeiro Franco na esquina com Martim Afonso – uma das mais movimentadas da cidade.

O duto estourado, o bueiro levantado pela pressão do líquido são um pedido de socorro aos novos donos da Sanepar – gente endinheirada que investiu em ações da empresa com a promessa de retribuição em dividendos.

Dividendos?

Dividendos são uma parcela do lucro apurado por uma sociedade anônima, distribuída aos acionistas por ocasião do encerramento do exercício social.
No Brasil, a lei manda distribuir no mínimo 25% do lucro.

Quem são os acionistas? No início da Sanepar, criada em 1963, o grande acionista era o Estado e uma parte pequena das ações pertencia aos municípios.
Isso foi mudando. Hoje apenas 20% das ações estão com o Estado. Acionistas nacionais têm 53,69% e estrangeiros 25,91%.

Que lucro é esse? Grosseiramente, o lucro é o resultado de uma conta simples: tudo que a empresa ganhou menos tudo que a empresa gastou.
Seria uma operação fácil de fazer se não fosse a obrigação de novos investimentos, principalmente no setor de esgotos.

De longe dá para sentir o cheiro do problema: muito é coletado e pouco é tratado. O resultado são rios e lagos poluidos com esgotos que chegam carregando bilhões de bactérias patológicas, resíduos industriais, agentes tóxicos.

Em uma sociedade justa o lucro deveria ser integralmente transformado em investimento até que todos tivessem esgotos coletados e tratados. Afinal, é para isso que a gente paga a taxa de esgoto, não é?

Não é. No ano passado a Sanepar distribuiu 403 milhões de reais aos acionistas a título de dividendos. Partilhou um lucro que não deveria existir.

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Tragédia periodística (en un solo acto)

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Cena 1
Local – Redação do Jornalão
Época – Década de 1960
Personagens – Editor-Chefe e Estagiário
(o estagiário muito atento toma notas em seu bloco. Ao fundo, o barulho inesquecível das Olivetti)

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Editor-chefe – …e aprenda mais uma coisa: a ética é teu pior inimigo.

Estagiário (com cara de dúvida) – É?

Editor-chefe – Pode confirmar com os estagiários que mandei embora.

(Pano rápido)

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