O direito de saber e o dever de revelar os malfeitos dos governantes

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Alda, Kate e Matt. Ela podia contar aquilo aos leitores do jornal?

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A crise de 2008 trouxe consequências para o cinema, entre elas a quebra da produtora Yari Film Group, que recorreu ao Capitulo 11 do Código de Falências (equivalente à nossa recuperação judicial) e teve bloqueados seus ativos – entre eles Nothing But the Truth (Faces da Verdade). O filme custou US$11.400.000 e rendeu míseros US$3.600 no único cinema de Los Angeles em que foi exibido.

Não é o melhor filme sobre ética jornalística, mas entraria fácil numa lista dos vinte mais se tivesse distribuição mundial. Em vez disso, ficou limitado ao DVD e ao streaming. Merece ser visto no Netflix.

 

O roteiro de Rod Lurie (também autor do bem sucedido thriller político A Conspiração, de 2000, que resultou na indicação de Joan Allen e Jeff Bridges para o Oscar) baseia-se vagamente no caso que levou a jornalista Judith Miller, do New York Times, a cumprir 85 dias de prisão por expor a agente da CIA Valerie Plamex. A matéria mostrava que o Iraque não tinha e nem estava adquirindo capacidade nuclear, e portanto não havia justificativa para a guerra decretada por George Bush.

Em Nothing But the Truth Lurie conta a história da repórter Rachel Armstrong, do fictício jornal Sun, de Washington, que revela a condição de agente da CIA de Erica Van Doran (Vera Farmiga). Desta vez o inimigo dos EUA seria a Venezuela, mas um relatório da agente desmente o governo. A reação é imediata e severa. Rachel é intimada pelo juiz Hall (Floyd Abrams) a revelar sua fonte. A negativa é considerada desacato à Corte de Justiça e resulta na prisão de Rachel.

Para defende-la, o jornal chama o advogado Albert Burnside (Alan Alda), especialista em Primeira Emenda – liberdade de expressão, direito de reunião, essas coisas. Do outro lado está Patton Dubois (Matt Dillon), um promotor duro, que argumenta com a tese da segurança nacional. Se os agentes da CIA forem expostos, o país corre risco de ataques terroristas.

O filme mostra as más condições do encarceramento da jornalista, a humilhação e as pressões da família e até do jornal, condenado a pesada multa, que aumenta a cada dia. A jornalista não cede e cumpre 355 dias de prisão, até que uma decisão por 5 a 4 da Corte Suprema considera a segurança nacional mais importante do que o sigilo da fonte protegido pela Primeira Emenda da Constituição dos EUA.

A solução do enredo é brilhante, como em outros filmes de Lurie, e para os brasileiros fica a confirmação de que a imprensa, inclusive a norte americana, não está com essa bola toda. Ao contrário, submete-se a forças econômicas e contingências políticas. A verdade vai cada vez mais para o fundo do poço.

Na vida real, a jornalista Judith Miller deixou o New York Times e hoje está abrigada no City Journal, bancado pelo Manhattan Institute, poderoso think tank conservador. Il faut bien vivre, aconselha o provérbio. O City Journal defende a tese de que “Inequality Does Not Reduce Prosperity” –  uma pesquisa deles mostrou que a maior desigualdade é um efeito colateral do desenvolvimento econômico.

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Albert Burnside (Alan Alda) cita Patrick Henry: “As liberdades públicas nunca estiveram e nunca estarão garantidas enquanto os negócios de seus governantes puderem ser escondidos do povo.”

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Floyd Abrams, que defendeu Judith Miller e o Times na investigação do vazamento interpreta o juiz Hall. Ter o famoso advogado dos direitos civis no set foi importante para evitar erros.

Abrams disse que tive prazer em fazer o papel de um juiz brusco e impaciente. “Foi muito terapêutico para mim.”

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Para a ex-reporter Judith Miller ver o filme foi o oposto da terapia – uma experiência difícil que trouxe de volta lembranças ruins. As cenas da cadeia, mistura de solidão e humilhação, são dolorosas. “O tempo na prisão é uma eternidade. Você precisa de um esforço para entender porque está lá.”

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Mas a performance mais difícil do filme é de Vera Farmiga, que faz a agente da CIA Erica Van Doren. Suspeita de revelar a própria condição de agente, submete-se ao teste do detector de mentiras. “Trouxemos um técnico em polígrafo. Pedimos um teste de verdade. Ele ligou todos aqueles cabos e começou perguntando: “Seu nome é Erica Van Doren?” e Vera Farmiga confirmou. No fim do teste o especialista chamou Lurie para um canto para informar: “Você não vai acreditar nisso. A máquina registrou que ela disse a verdade.”

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