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Nova York está acabando.
Mas, com a mais absoluta dignidade.
O primeiro sinal veio há uns dez anos, quando problemas de caixa, mais Amazon, obrigaram Barnes & Noble a vender a enorme livraria que mantinha na rua 66, ao lado do Lincoln Center.
Quem comprou foi a Century 21, uma loja de departamentos cujo forte são roupas de carregação. Em lugar dos antigos leitores, que passavam horas no café do quarto andar com seus livros e revistas, chegou a horda de turistas baratos – os brasileiros em destaque porque o dólar estava 2 e qualquer coisa.
Outro sinal de decadência foi o fechamento do Plaza Hotel, onde uma vez vi Fernando Henrique Cardoso entrar com uma pasta provavelmente cheia de documentos importantes.
Metade dos quartos – aqueles do lado nobre, que dá vista para o Central Park – foram transformados em kitinettes e vendidos a preços que começavam em um milhão e meio de dólares. O que sobrou reabriu sem muita glória, porque esqueceu as tradições do hotel, entre elas o elogiado brunch dos domingos, que tinha champagne, hadoc e chás de todos os lugares do mundo.
Fechou também o Hotel Pierre.
E agora não há mais FAO Schwarz, fundada em 1862 por Frederick August Otto Schwarz, que vendia com exclusividade trens elétricos feitos na Alemanha para milionários árabes, chineses e – claro – brasileiros. Muita propina de empreiteira pode ter sido transformada em bonecas de porcelana com cabelos naturais. Ou em drones de 1,5 mil dólares. A PF não deve deixar de investigar isso.
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A Argosy resiste com seus seis andares na rua 59 East. Oferece primeiras edições e raridades como um documento autografado pelo xerife James Warren. Por 1.100 dólares.