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Que alívio. O Luiz Fernando Veríssimo confessa que jamais passou da terceira página de Finnegans Wake, a obra impenetrável de James Joyce.
Também não entendi.
Revelo mais: não passei das primeiras páginas de Ulisses, romance semi-inatingível de Joyce, principalmente na tradução de Antonio Houaiss.
Um consolo vem de Caetano Galindo, que está traduzindo Finnegans Wake: “Aqui, as palavras não significam fatos, coisas, ideias do mundo. Elas não têm referente. Leitor nenhum, em momento algum, terá entendido, finalizado, compreendido um trecho qualquer do Wake.”
(Clique para ler um trecho da tradução.)
Também vacilei ante Shakespeare. Como entender entrelinhas e subtextos do Rei Lear e de Ricardo III?
Os livros ficariam eternamente na prateleira se não fosse o Clifton Hillegass, que mastigou toda a literatura e transformou as maiores encrencas em livretos de macetes, os Cliff Notes. Ele começa geralmente com a vida do autor, vai para o elenco de personagens, segue com o resumo da história, a estrutura do romance. Depois resume e analisa cada capítulo, terminando com o destaque do livro e testes para ver se o leitor entendeu tudo.
Engraçado que Cliff nem é da área. Formou-se em física e geologia na Universidade de Nebraska, foi meteorologista e em 1958, para atender um amigo, fez o resumo de um livro. O trabalho passou de mão em mão, muito elogiado. Tão elogiado que Cliff resolveu publicar seu primeiro livreto. Pegou quatro mil dólares emprestado e ficou surpreendido com o sucesso do trabalho. Vendeu 58 mil exemplares.
Em 1999, passou o negócio para frente por 14 milhões de dólares.
Nessa altura, já sofria concorrência das Spark Notes, fundada por alunos da Universidade de Harvard, que criaram o site TheSpark.
Hoje, há dezenas de sites assim, consultáveis a qualquer momento, ansiosos por sanar nossas dúvidas.
Mas até agora nenhum revela o que Erico Veríssimo, meu primeiro autor importante, quis dizer com aquela viagem muito doida do menino Fernando no misterioso Avião Vermelho, que li aos sete, oito anos.
