.
..
.
Um dia será oficializada a função de crítico de banheiros públicos. E talvez saia de Curitiba uma geração de autorizados críticos de banheiros públicos. Nossa experiência no assunto é extensa e profunda.
Banheiro é coisa séria. Para a saúde pública, para a economia e para a sociologia. A desigualdade social – hoje medida principalmente pelo Indice de Gini, que coloca o Brasil em posição pouco decorosa – pode ser avaliada pelos banheiros públicos. Ou pela indigência deles.
Um banheiro numa preça de Curitiba, mantido precariamente pela Prefeitura Municipal, não é grátis. Você paga 50 centavos para usá-lo. Não interessa o que vá fazer lá dentro. Cinquenta centavos é o preço para todos os usuários do banheiro do parque Barigui (onde a renda per capita é alta) e da praça Generoso Marques, frequentado por pobres.
Em compensação, se você aproveitar o domingo para andar de bicicleta, poderá dar um passeio até o Aeroporto Internacional Afonso Pena. Lá o espera um banheiro amplo, iluminado, limpo e cheiroso. O papel higiênico é de boa qualidade, assim como as toalhas de papel.
(Lembre-se de ir de bicicleta. De carro você paga estacionamento e gasta gasolina. Ai, o cálculo muda um pouco.)
Sabem todos que os frequentadores do Afonso Pena têm muito mais dinheiro que os do parque Barigui. E infinitamente mais do que os pobres usuários da praça Generoso Marques.
A teoria da concentração da riqueza (“Dinheiro atrai dinheiro na razão direta do volume e na razão inversa do quadrado da mensalidade do clube que você frequenta”) fica comprovadíssima com essa simples experiência.
A capacidade crítica em relação aos banheiros não é privilégio dos curitibanos, nem dos brasileiros. No mundo inteiro há quem encontre nos restroons um modo de avaliar a situação de determinada sociedade. (O outro local é a zona, lá fora designada como Red Light District. Mas deixa pra lá.) Encontrei no blog português “Rua da Constituição” um post que denota alentada cultura de banheiro. O autor é médico.