“Aquele jovem indiano magro tem o dom misterioso que só aparece uma vez em cada geração. Ele é um chef – um dos poucos que simplesmente nasceram chefs. Ele é um artista.”
(Palavras iniciais do romance The Hundred-Foot Journey, de Richard C. Morais, uma história suculenta sobre família, nacionalidade e os mistérios da boa comida. Também é uma boa lição de empreendedorismo.)
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O mundo é plano, globalizado, e a comida indiana ótima, embora alguns a achem aromática demais.
Baseado nessa realidade sensorial e econômica, Richard C Morais, americano nascido em Portugal e criado na Suiça, ex-editor da Forbes, escreveu um livro sobre as relações culinárias franco-indianas. “The Hundred Foot Journey”, best seller do New York Times, a venda em 29 países, conta a história do chef Hassan Haji, partindo do modesto restaurante familiar em Mumbai até a conquista da alta cozinha de Paris.
A família, liderada pelo excêntrico pai de Hassan, foge de um desastre na India e encontra refúgio na França, num vilarejo de beira de estrada chamado Lumiere, onde abre um restaurante indiano.
Do outro lado da rua (os 100 pés de distância do título) está o restaurante de Madam Mallory, coroado com uma estrela no Guia Michelin. Começa uma batalha culinário-cultural entre a famosa chef e o pai de Hassan, cheia de humor e informação sobre a cozinha dos dois países.
O livro, de 2010, felizmente não é sóciogastronômico, nem filosóficamente indigesto, é apenas divertido. Foi escolhido como um dos “Indie Next Great Reads” da American Booksellers Association, virou sucesso do Livro do Mês, “Editor’s Choice” do New York Times, “Leitura Favorita de Verão” da Revista O.
Logo atraiu os produtores Steven Spielberg, Oprah Winfrey e Juliet Blake, que chamaram o diretor Lasse Halstrom e os atores Helen Miren (Madam Mallory), Om Puri (Papa), Manish Dayal (Hassan) e Charlott le Bom (Charlotte).
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Um overbooking dispensável. Lançado em 8 de agosto nos Estados Unidos, está em Curitiba, na elegante sala do Shopping Patio Batel. Ontem, na sessão das 21h45m, protagonizou um caso de overbooking. A sala tem poltronas marcadas, como sabe qualquer leitor de coluna social. Como se fosse um avião da Gol em charter para Buenos Aires, começaram a aparecer bilhetes em duplicata para os melhores lugares.
A explicação veio mais tarde, depois de muito quiproquó. Imitando as companhias aéreas, o sistema caiu. Muita gente tinha comprado ingresso à tarde para a sessão das 21h45. Quando o sistema voltou a funcionar, o HD não lembrava da entradas já vendidas.
Se o filme é bom? É ótimo, dentro da mesma perspectiva que transformou o romance em sucesso de bilheteria. Leve, bem humorado, meio escapista, melhora seu dia e mostra a competente fotografia de Linus Sandgren (Trapaça, Jogos Vorazes). Jamais os legumes franceses foram filmados de forma tão saborosa.
O roteiro é básico, por isso bom. Papa se desentende com Madame Mallory, a briga fica feia quando o chef xenófobo incendeia o restaurante indiano. A solidariedade reaproxima os concorrentes, Hassan acaba assumindo a cozinha da rival e conquista para o famoso restaurante a segunda estrela Michelin.
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