A Morte do Cobrador de Ônibus

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Não interessa se ficou apertado. Interessa se cobrador está lá.


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Outro dia dois vereadores, o Chicarelli, do PSDC e o Campos, do PSC, apresentaram projeto de lei proibindo a substituição dos cobradores de ônibus pelo cartão transporte.

O fato deve ser registrado como prova de que Curitiba em 2014 ainda está na Idade da Pedra em matéria de política.

Vereadores – são uns 35 ou 38 – passam o tempo pensando em nomes para batizar as ruas e em projetos para evitar a mudança. Qualquer mudança. Aqui não, cara. Em Curitiba vale a tradição, o bonde de burro, o trabalho honrado dos limpadores de chaminés.

O projeto anticartão é patrocinado pelo Sindicato dos Motoristas e Cobradores de Ônibus. Com toda razão. Ele representa os interesses dos cobradores. Ao sindicato não interessa que as empresas treinem seus empregados para que se transformem em fiscais, coordenadores, supervisores. Eles passariam a contribuir para outro sindicato.

Nos Estados Unidos, o sindicato dos foguistas conseguiu uma longa sobrevida com um projeto que proibia as ferrovias de demitir foguistas – aqueles trabalhadores que jogavam carvão na fornalha para aquecer a caldeira da locomotiva a vapor. As ferrovias argumentavam que, com a chegada das locomotivas a diesel, não havia mais necessidade de foguistas.

Perderam. Muitos foguistas mantiveram o emprego e ficaram anos batendo ponto na sede. Mesmo com as locomotivas elétricas alguns juízes decidiram que eles deviam continuar não fazendo nada. Não eram obrigados a seguir cursos de reciclagem – estavam muito velhos para mudar de trabalho.

Desconfio que o mesmo aconteceu com o Sindicato dos Caixeiros Viajantes dos EUA e de outros países. Sindicatos defenderam o emprego dos filiados. Não interessa se novas tecnologias tornaram supérflua a figura do vendedor chegando à cidadezinha com seu mostruário.

“A Morte do Caixeiro Viajante”, de Arthur Miller, é uma obra prima porque trata da incapacidade do homem para aceitar mudanças. Dentro de si mesmo e na sociedade. Gerou uma citação famosa que continuamos repetindo mecanicamente: “Um homem não é uma fruta da qual você chupa o caldo e joga o bagaço no lixo!”

A peça termina com o suicídio do caixeiro viajante chamado Willie Loman e seu funeral. O segredo do sucesso da história parece estar na identificação da plateia com o drama do personagem. Quase todo mundo sentiu em algum momento da vida a redução da autoestima e a sensação de fracasso.

Agora mesmo, em algum lugar da cidade, deve haver um cara anunciando que vai tentar, pela décima vez, usar um computador para mandar emails e comentar no facebook. Logo mais à noite, com a cara na TV, esquecido da bravata, voltará a mergulhar na novela do Laerte, que trai Luiza com Shirley momentos antes do casamento.

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