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Penfield, New York, USA – October 30, 2009: Young man dressed in a Superman costume pulls off his outer shirt and tie.
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Em 20 dias, Superman, do diretor James Gunn, teve mais de três milhões de ingressos vendidos. O absoluto sucesso do velho herói dos quadrinhos leva a discutir questões profissionais embutidas na história.
Se é verdade que o Super-Homem não resiste a um pedaço de kriptonita, também é verdade que o repórter Clark Kent seria reprovado em um teste de ética jornalística.
Quem diz isso é George Gene Gustines, que escreve há vinte anos sobre histórias em quadrinhos para o New York Times. Em artigo publicado dia 11 de julho, ligado ao lançamento da nova versão cinematográfica do super herói, Gustines lembra que desde 1938, quando apareceu pela primeira vez no jornal, Clark usa informações que chegam à redação do Planeta Diário para conseguir furos e ganhar promoções. O texto integral está em https://www.nytimes.com/2025/07/11/arts/superman-lois-lane-clark-kent-journalism.html
Exemplo: em 1986, a repórter Lois Lane, escalada para cobrir as atividades do Super-Homem, está para conseguir um furo. Mas Clark, informadíssimo, pula na frente, obtém uma exclusiva e sobe um degrau na hierarquia da redação.
Gustines ouviu um dos mais conhecidos escritores de HQ, Mark Weid, que tem um olhar condescendente para as espertezas e manhas do repórter Clark Kent.
“É verdade que ele conseguiu seu emprego escrevendo as melhores histórias sobre o Super-Homem. Isso prova apenas que ele é bom em tirar vantagem do sistema.”
Kelly McBride, do Instituto Poynter, que analisa a ética nas redações de grandes e pequenos veículos de imprensa, não concorda: “Alguem capaz de produzir manchetes todo o dia, não pode ser também o jornalísta que divulga os feitos em primeira mão”.
Em Homem e Super-Homem (2019), o escritor Marv Wolfman e o desenhista Claudio Castellini revelam que Clark mudou para Metrópolis por causa do Planeta Diário, que, segundo Clark, “produz imagens indeléveis com palavras do jeito que nenhum outro jornal jamais produziu.” Está apaixonado pela prosa de Lois Lane: “Ela é o máximo. Suas matérias duras, reais, corretas, engraçadas e inteligentes são produto de uma grande escritora.
Wolfman está entre os que não veem problema em Clark escrever reportagens sobre o Super-Homem. “Ele está narrando fatos, sem opinar sobre eles”.
Mais tarde as coisas se complicam. Lois, agora casada com Clark, é promovida a chefe de redação, ele é o principal repórter. O redator Rainbow Rowell e o desenhista Cian Tormey apontam o conflito de interesses que é expressado por Lois.
-Não posso colocar meu papel de repórter a frente de meus deveres como Super-Homem. Eu sou o Super-Homem.
-Sei, Clark, ela replica. –E eu sou a editora-chefe.
Kelly McBride (www.poynter.com) pondera que Lois não pode, como chefe de redação, supervisionar o trabalho de seu marido. Há um claro conflito de interesses.
A solução é encontrada quando Lois transfere Clark para a reportagem geral. Ele reclama, ela confirma a decisão com um mantra do jornalismo.
-Não existem fatos pequenos. Existem repórteres que não veem as grandes histórias escondidas atrás dos pequenos fatos.
-Você já escreveu grandes obituários? – ele debocha.
Com o tempo fica claro que Lois tem razão e Clark revela-se excelente em matérias de interesse humano. Seus textos começam a ganhar espaço na primeira página e parecem indicar um novo caminho para o bom jornalismo.
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