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Como devem agir os progressistas quando a direita assume o poder?
Isso acontece agora no Brasil, nos Estados Unidos, na Inglaterra. Aqui, a resistência à manobra parlamentar que retirou Dilma da presidência e colocou no Planalto um vice neoliberal, organiza-se em torno de Lula e da necessidade de preservar o estado democrático de Direito – ou o que sobrou dele.
Nos Estados Unidos o esforço para salvar o Partido Democrático é mais ambicioso porque em boa parte está ancorado na academia. As universidades produzem pensadores e ativistas políticos capazes de injetar ideias na frente liberal.
Um exemplo é a senadora Elizabeth Warren que acaba de lançar This Fight is Our Fight (The Battle to Save Americas’s Middle Class), da Metropolitan Books/Henry Holt & Company.
O New York Times publica hoje uma resenha de Paul Krugman, que começa com um apelo aos acadêmicos ainda enclausurados em seus gabinetes “como monges medievais” – saiam do conforto e venham colaborar porque os tempos são difíceis.
Elizabeth Warren deixou a cátedra de direito em Harvard para uma posição ativa na política. Saiu de sua cabeça boa parte da reforma financeira de 2010, inclusive a formação do Consumer Financial Protection Bureau – órgão encarregado de caçar fraudadores.
O Dodd-Frank Act criou a figura da delação premiada para combater crimes financeiros. Premiada mesmo, com um valor relacionado ao tamanho do malfeito denunciado pelo delator (whistleblower). Estava destinada a liderar o que Krugman chama de “ala democrática do Partido Democrático” no governo Hillary Clinton.
Para ela está claro que é preciso combater a grande corrupção das uberorganizações financeiras – elisão, evasão e sonegação fiscal. Não é difícil deduzir do livro que o Brasil precisa urgentemente de um Dodd-Frank Act, ao lado da lei 12.850 (que trata das organizações criminosas do ponto de vista do direito penal). Com metade do dinheiro sonegado de volta ao caixa do Tesouro, recoloca-se a República em funcionamento.
O livro de Warren é um manifesto que oferece caminhos aos liberais americanos. Krugman chama ao conjunto de ideias iluminismo populista. Vai contra a crescente concentração de renda e riqueza em mãos de uma pequena elite. A concentração de benefícios econômicos está minando o sistema político.
A desigualdade de renda (e de poder) causa estagnação da receita familiar, insegurança crescente e redução de oportunidades. O livro mostra pequenos retalhos do drama popular. Um empregado do Walmart obrigado a completar a cesta básica no armazém de uma associação de caridade. Um trabalhador da DHL forçado a aceitar redução salarial para não perder o emprego. Jovens que sofrem para pagar financiamento estudantil.
A senadora recorre ao passado para reforçar seu argumento. Sua história pessoal de sucesso é resultado da oferta de ensino de alta qualidade em faculdades públicas agregado a um salário mínimo relativamente alto. No Brasil não foi diferente. Lembre o número de políticos importantes – Jaime Lerner, Roberto Requião, Saul Raiz – que estudaram no Colégio Estadual do Paraná e na UFPR.
A conclusão inevitável é que a República precisa de sábios – gente capaz de distinguir o fato da opinião, a prova da convicção. Logo, necessita fortes investimentos públicos em educação, pesquisa, extensão.
Uma infraestrutura moderna ajuda a indústria a lucrar e se expandir. (A internet existe graças aos investimentos do exército norte-americano em pesquisa.)
Em resumo: This Fight is Our Fight é um recado para a atual geração de políticos, condenada a desaparecer se não estudar, se não aprender a reduzir a desigualdade. O quadro é dramático. Pre apocalíptico. Acentuam-se os sinais de que o outro país – aquele que mora em favelas, controlado por helicópteros, cercado de tanques – está a ponto de explodir.
No dia em que ele romper o cerco policial, ai de nós.
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