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Dilma está certa: foi uma tentativa de golpe mediático. O bom e velho golpe mediático, no estilo da vetusta UDN, aquela do tempo do suicídio de Vargas.
Uma ação em três tempos.
Tempo um: a revista Veja publica a escandalosa capa acusando Dilma e Lula de conhecerem, e por omissão autorizarem, negociatas na Petrobrás. O acusador é o doleiro Alberto Youssef, que conseguiu o benefício da delação premiada pela segunda vez. Na primeira vez foi incapaz de comprovar as informações oferecidas à justiça e o acordo foi cancelado. (A revista cautelosamente informa que ele não apresentou qualquer prova do que estava afirmando.)
Tempo dois: a mídia aliada amplifica a informação. “Eles sabiam”. Seguem-se editoriais, analises e comentários contra a candidata do PT.
Tempo três: Aécio Neves, no debate da Globo, usa a denúncia para acusar o atual governo de corrupção e mostrar a necessidade de mudança. Enquanto dura o debate na TV a campanha da oposição distribui milhares (a primeira informação fala em 100 mil) de cópias da capa da revista.
Estou lendo Alberto Dines, no Observatório da Imprensa: “O petardo – apresentado sem qualquer comprovação como parte da delação do doleiro Alberto Youssef – certamente interferirá no pleito de domingo (26). Seus efeitos mais danosos serão sentidos inexoravelmente a partir da segunda-feira.”
Agora, um rápido flash back. Meses atrás, na fila de matrículas do Cefet, duas mães comentam os perigos que os filhos vão enfrentar na nova escola.
-A Sete de Setembro vive dando assaltos, diz a primeira.
A outra suspira, olha para os lados, e responde em voz cautelosa:
-E além disso tem todos esses cotistas aqui dentro. Tenho medo deles…sabe…conversando com nossos filhos.
De retorno à eleição. Hoje vai ser pauleira. O Brasil está mais dividido do que nunca. O governo promoveu transferências de renda de parte superior para a base da pirâmide social. Surgiu a nova classe média – fenômeno econômico e sociológico exaltado ppor todo o mundo.
Ampliou-se a base de consumo, como me explicou um marqueteiro da Unilever Fabricante de Seda, Dove, TreSemme. Com baixo índice de desemprego e ganhando um pouco mais, moças que lavavam o cabelo com sabão de côco agora capricham na escolha do shampu. (Imagine o que são doze milhões de novas consumidoras adquirindo um xampu todo mês.) As vendas de automóveis e motos explodiram. O shopping center ficou cheio de caras novas. Gente “diferenciada” com dinheiro no bolso e aquele mau gosto das periferias está invadindo até os aeroportos. Como pode tanta gente na fila da CVC comprando passagem para a Disney?
O foco da marquetagem de Aécio dirigiu-se à velha classe média média (que alguns marqueteiros chamam de C superior, outros de B inferior). Afinal, quem mais acredita que o vírus da corrupção só ataca petista e colegas da base aliada no Congresso?
A velha classe média média (à qual pertence a famosa Velhinha de Taubaté, do Luis Fernando Veríssimo) ama o status quo, não gosta de gay se beijando e quer maconheiro na cadeia. Defende a redução da maioridade penal e lamenta a falta de pena de morte. Acredita em doleiro arrependido, ainda lê a Veja, nem que seja no dentista e sabe que os comunas estão por ai, prontos para sovietizar o Brasil.
(*) O relato das demissões, pelos próprios atingidos, está no documentário “Liberdade, Essa Palavra”, de Marcelo Baêta Chaves.