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Eis-me prostrado a vossos peses
que sendo tantos todo plural é pouco.
Deglutindo gratamente vossas fezes
vai-se tornando são quem era louco.
Nos versos acima o poeta Carlos Drummond de Andrade desanca a imprensa da segunda metade do século passado. Se fosse hoje possivelmentee estaria falando mal do WhatsApp, inventado em 2009, que ajudou a botar o povo na rua em 2013, inflamou a ira contra o PT, incendiou o Congresso Nacional no impeachment da Dilma e na greve dos camioneiros. E finalmente turbinou essa eleição do Jair.
Desancaria também o Facebook, que entregou arquivos e informações de usuários para a Cambridge Analytica. E o Google, que vende relatórios sobre interesses dos usuários.
O poeta Drummond escreveu para jornais. Sentado na redação ao lado de repórteres e editores, aprendeu muito sobre o negócio da mídia. Inventou esse cara, o Kom Unic Assão, para advertir que, assim como o papel aceita tudo, a cabeça do leitor pode ser infectada por todo tipo de merda – das maledicências bobinhas às mentiras mais cabeludas.
Intoxicados de fakes, americanos elegeram Donald Trump e agora assistem à construção de mais um Muro, tão inútil quanto aquele que separava as Alemanhas, mas infinitamente mais caro.
Outros deram a vitória ao Leave no Brexit. Neste momento, a Inglaterra arrependida sofre a humilhação de pedir pinico em Bruxelas.
Aqui, a eleição deu poder a um improvável ajuntamento de especuladores do mercado financeiro, neopentecostais anti aborto e pró cura gay, políticos do baixo clero e militares, a maioria de pijama. E à inacreditável Família Bolsoprano.
Essa coligação maligna quer agora acabar com a Previdência Social. Será que o deus Kom vai ajudá-la?
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Está difícil convencer o povo que toda a desgraceira nacional – os 12 milhões de desempregados, os 30 milhões de trabalhadores informais, milhões da famintos – é resultado da corrupção pé-de-chinelo de políticos que cobram “rachadinha” dos assessores. Eles, só eles, deixam o Brasil pobre, com essa dívida que não para de crescer?
Claro que não. Há cada vez mais gente concordando que os responsáveis são outros. O poeta Drummond havia previsto a mudança. “Kom tornará são quem era louco”.
Sabemos que não dá para enganar todos o tempo todo, embora o Itaú continue dizendo que é “um banco feito para você” quando é feito para os Setubal e os grandes acionistas.
A informação vence a enganação e deixa o povo esperto. O conjunto de palhaçadas a que assistimos de dezembro para cá rompeu a barragem e agora parece inevitável o refluxo das fake news. É bíblico, “A verdade vos inundará como a lama inundou Brumadinho.”. Mas aqui há uma diferença essencial: todas eles merecem ser afogados.
Afogadas em praça pública com transmissão mundial pelo YouTube e Facebook.
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Até o piolho do craqueiro da Boca Maldita sabe as causas da miséria nacional: a evasão fiscal de megacorporações, a dívida pública não auditada, o dinheiro levado para Miami e dali para os paraísos fiscais do Caribe e do Canal da Mancha. Essa sonegação de luxo é produzida diariamente, ano após ano, no ambiente manhattiano de grandes escritórios de planejamento tributário. E só vai diminuir (acabar, jamais!) quando o povo souber de tudo.
São e esperto, o povo imporá fiscalização forte e tributação progressiva da grana do 1% mais rico. Deselegerá quem elegeu errado, impichará quem mereça ser impichado, exigirá informações de quem sempre o desinformou e mandará um ultimato a Brasília: “Lula livre – ou prendam todos os outros!”
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