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(Dunquerque está em praticamente todos os cinemas. A tela do Patio é a melhor. Reserve no fim de semana.)
A retirada de Dunquerque foi uma extraordinária operação militar. E de propaganda. Assistir ao filme é indispensável para quem se interessa por filmes de guerra e por marketing político.
A história começa com um fracasso estratégico, a Linha Maginot, construída entre a França e a Alemanha para evitar a invasão dos exércitos de Hitler mostrou-se inútil. As tropas alemãs contornaram a Linha pela Holanda e acabaram com a ilusão de que seria outra guerra de trincheiras como a de 1914-18.
400 mil soldados do exército francês e das forças expedicionárias inglesas ficaram encurralados na região de Dunquerque. Do alto, a Luftwaffe bombardeava os navios e metralhava soldados que esperavam na praia. Do mar, submarinos lançavam torpedos. De terra, a artilharia devastava tudo. Uma carnificina.
Faltava transporte. A evacuação em massa deu-se com ajuda de grande número de pequenos iates, dingues, rebocadores, operados por civis. Durante vários dias eles atravessaram o Canal e resgataram militares. Winston Churchill forjou a expressão “espírito de Dunquerque” para se referir à solidariedade do povo inglês na crise.
Uma gigantesca derrota (70 mil mortos, 330 mil resgatados) transformou-se na “vitória moral” que mobilizou a Inglaterra até a vitória de 1945. Se a operação não desse certo a capitulação seria a única saida.
O filme de Christopher Nolan que entrou em cartaz ontem não foi feito para exaltar a batalha, mas o “espírito de Dunquerque”.Ele é oportuno. Os ingleses enfrentarem outro fracasso estratégico – a convocação do plebiscito que resultou no Brexit, certamente o maior erro cometido pelo governo conservador após a segunda guerra mundial.
Filmado em 70mm (como “O Mestre” e “Os Oito Odiados”), custou cerca de 150 milhões de dólares, o que é barato considerando os milhares de extras que aparecem nas cenas de batalha, a restauração de aviões Spitfires, Stukas, Messerschmitts e destroiers que voam e navegam com a agilidade De 1940.
O casting ficou fácil porque os soldados de Dunquerque eram dolorosamente jovens. Veteranos como Mark Rylance (comandante de um iate de passeio) e Kenneth Branagh, o coronel Bolson, que comandou a operação na praia são os atores mais conhecidos. Por que não há atrizes? Documentos confirmam que as últimas a deixar Dunquerque foram as operadoras de rádio e telegrafia, mulheres cujo soldo era 2/3 dos soldados.
As imagens inesquecíveis: iates e dingues de civis enfrentando o mar agitado para chegar ao outro lado do Canal; o comandante que não embarca, porque ainda há soldados a resgatar; e o Spitfire heroico que derruba vários aviões inimigos, fica sem combustível e consegue, graças a habilidade do piloto, aterrissar na praia.
Um soft landing, como otimistas esperam que ocorra ao final do Brexit.
Atenção para a trilha sonora de Hans Zimmer, também candidato ao Oscar.
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PS – Informação meio inútil. Christopher Nolan teve a ideia quando passeava de iate pelo Canal da Mancha em 1992, com sua então namorada Emma Thomas. Emma hoje é esposa de Nolan e produtora do filme.