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Um passo para cada lado e você continua no meio. Assim faz a Folha de S. Paulo na questão do fumo. Em editorial de 27/07/2017 sobre o próximo julgamento do Supremo Tribunal Federal, que pode proibir a fabricação de cigarros mentolados no Brasil, disse o que se segue:
“A Anvisa, contudo, parece dar um passo temerário ao deliberar sobre o sabor dos cigarros. Não se cogita, por exemplo, forçar fabricantes a produzir vinhos e cervejas menos agradáveis ao paladar, embora o uso abusivo do álcool também cause enorme dano social.”
Desconfie, amigo, de qualquer argumento que comece com “contudo”.
E desconfie ainda mais das más analogias. Permitir que fabricantes coloquem no mercado cigarros com sabor que criança gosta não é a mesma coisa que obrigar fabricantes a produzir vinhos e cervejas desagradáveis ao paladar.
Permitir é permitir; obrigar é obrigar.
Agora mesmo o Guardian está publicando a série sobre a guerra suja da indústria do cigarro para dominar os mercados da Africa através de ameaças, processos e bullying.
Conta a repórter Sarah Boseley que, no Kenia, advogados da British American Tobacco entraram com um pedido na mais alta corte de justiça para declare nulo o pacote anti-fumo e a elevação do imposto sobre o cigarro.
As leis seriam anticonstitucionais, argumentam os advogados da BAT, o mesmo que alegam em Uganda, onde o governo aprovou uma Lei de Controle do Tabaco.
Em Uganda, Namibia, Togo, Gabão, República Democrática do Congo, Etiopia e Burkina Faso, as cigarreiras ameaçam recorrer aos tribunais internacionais. O governo estaria violando as regras do comércio internacional ao obrigá-las a estampar nos maços de cigarro advertência sobre os perigos do fumo.
Claro que no congresso de cada um desses países há uma bancada do fumo. Exatamente no Brasil. Felizmente criamos uma consciência nacional sobre a relação maligna entre cigarro e doenças como câncer de pulmão, enfisema e as cardiopatias.