Nós, os 90 privilegiados

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A melhor cantora na menor sala. Falta de juizo.

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Que pena. Rosa Passos, nosso rouxinol, melhor cantora do Brasil, top ten do mundo, foi enclausurada numa sala com menos de 100 lugares. E o teatro Paiol vazio.

Faltou ingresso nas três noites da baianinha de voz doce no auditório da Caixa Econômica.

Consegui duas entradas no último minuto e na última fila. O Jaime Lerner também deu sorte. Amigos de gerentes da Caixa idem. Somos felizes. Deu para aplaudir, cantar junto e até chorar um pouquinho ao ver que a homenagem aos 90 anos de Antonio Carlos Jobim ficou linda.

Jazzista de verdade é assim – Rosa recriou em cima de toda aquela inovação do LP original, lançado em 1997. “Chega de Saudade”, o clássico que deu origem à bossa nova, em 1957, não é mais o mesmo. Está mais lindo, com nova divisão, rotas sonoras nunca dantes navegadas.

“Ela canta com volume de bossa nova, divisão de jazz e emoção de MPB. Nenhuma outra cantora é capaz de fazer você se emocionar cantando no volume em que Rosa Passos canta!”, resume o jornalista Ricardo Freire, do O Estado de São Paulo.

É um privilégio ouvir a guitarra de Lula Galvão e o solos de Paulo Paulelli no contrabaixo. Paulelli nasceu em São Paulo. Ficou conhecido por seu trabalho no Trio Corrente. De uma família musical, seu avô Ernesto foi homenageado pelo compositor Adoniran Barbosa, com o “Samba do Arnesto”.

O baterista Celso de Almeida completou o trio. O que ele faz com as vassouras, seus staccatos e legatos representam uma aula magna para qualquer candidato ao instrumento. Se expressa como os melhores do mundo, contido porque o ambiente é de música de câmara, eloquente porque dialoga com uma jazzista fantástica.

O som em um ambiente desses é fundamental. Rosa pediu palmas para o Elton, que há anos garante a amplificação suave, o equilíbrio de sua voz pequena com a guitarra, o baixo e a bateria.

Ganhei a noite, mas fiquei com a sensação de que há alguma coisa errada no ar. Este é o país que mais concentra riqueza e poder nas mãos de poucos. E onde a grande arte tornou-se regalia de quem pode ou de quem tem sorte.

Não quero ser exagerado, mas garanto que colocar Rosa Passos ao alcance de todos os brasileiros é um imperativo democrático.

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