Moisés e Betsalém no fazimento de Curitiba

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Ganhei um autógrafo do Rafael Dely, feito por Paula, que imita direitinho a assinatura do pai.

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Foi a grande festa da Curitiba que deu certo.

Segunda-feira, 19h, estava todo mundo – urbanistas, arquitetos, ex-secretários municipais, professores, jornalistas – na Livraria Curitiba do Shopping Estação para o lançamento do livro Curitiba, o Fazimento de uma Cidade, de Rafael Dely e Marcelo Oikawa. Fazimento não é neologismo, está no Aurélio: ato de fazer.

O livro registra também os projetos não feitos, que hoje fazem falta. Por que, por exemplo, não temos garagens subterrâneas para liberar espaço aqui em cima? Os projetos eram todos fazíveis, faltaram fazedores.

O Jaime Lerner não apareceu, culpa de atraso no médico, mas a Ilana estava lá. O Raphael Greca chegou, mas foi rápido, e fez um discurso muito elogiado. Ele sabe aqueles detalhes da cidade em construção, que aprendeu na Casa Romário Martins, e todos gostam de lembrar. Fez o elogio de Dely, com quem trabalhou junto e também bateu de frente.

Descubro o motivo do choque entre os dois na página 175: “A coordenação do projeto dos ônibus biarticulados constituiu o motivo do meu afastamento. “O prefeito Raphael Greca propunha para aquela tarefa um profissional distinto daquele que eu considerava apto para a função. A insistência do prefeito em mantê-lo ocasionou meu desligamento. A partir desse momento passei a integrar a equipe que buscava a eleição de Jaime Lerner ao governo em 1994.”

O Raphael Greca mudou para a equipe do Requião e dirigiu a Cohapar.

O livro, iniciado em 2003. é escrito na primeira pessoa. Foi ditado por Rafael Dely ao jornalista Marcelo Oikawa, que trabalhou com ele no IPPUC e na Secretaria Especial de Política Habitacional do Paraná. Marcelo é de Londrina. Fez parte da redação do Novo Jornal, Folha de Londrina e Panorama, jornal-aventura do Grupo Paulo Pimentel, que levou ao Norte do Paraná uma seleção de estrelas do jornalismo paulista.

Um breque para citar depoimento do repórter e contista João Antonio (Lembre: Malagueta, Perus e Bacanaço) sobre o jornal Panorama:

“Mais um telefonema me pega no banho. De Londrina, Norte do Paraná. Nada. A coisa era mais quente do que eu pensava. Desta vez, devia fazer as malas, pegar a escova de dentes, catar as coisas, descer do apartamento. (…) Haviam seguido para Londrina, depois de Ruy [Fernando] Barboza, Narciso Kalili e Miltainho [Mylton Severiano], abalados de São Paulo. Igualmente Mário de Andrade, Georges Bourdoukan, falava-se também em Amilton Vieira, na fotografia. [José] Trajano, este para o esporte, saíra do Rio e estava lá desde os começos. Boatavam, claro. Comentavam a ida de [Ricardo] Gontijo e de Hamilton de Almeida Filho. Esses nomes, pelo tamanho e passado, saídos do Rio e de São Paulo, fariam sem dúvida, uma equipe de peso e piso, como se dizia à antiga.”[Panorama, 9 de março de 1975. Ano I, no1. Panorama/Cidade (Edição Histórica)]

Voltando ao lançamento de Curitiba, o Fazimento de uma Cidade, que recomendo com fervor, o mérito do Marcelo foi reconhecer a importância do material que tinha em mãos no momento da morte de Dely e tratar de produzir um documento (1) relevante (2).

(1) O documento. São 370 páginas bem impressas graças à Lei Rouanet e dos aportes da Itaipu, Elejor, Copel e Veiga Lopes. Contem preciosos croquis e projetos de obras que tornaram Curitiba a cidade procurada por estudantes de urbanismo do mundo. E também projetos que não se materializaram, como o Teatro Maria Francisca Rischbieter, no terreno onde era a Caixa Econômica da Praça Osório. Ou o Memorial dos 300 anos no Largo da Ordem, com estacionamento de quatro
pisos. Ou o estacionamento subterrâneo projetado para a Praça 19 de Dezembro.

(2) A relevância. Ao lado de Jaime Lerner – nem atrás, nem à frente – foi o responsável pelo desenho da Curitiba de hoje. Não esquece do grupo de idealizou o Plano Diretor Marcelo Oikawa lembra que, no sepultamento de Dely, o rabino definiu os dois: Jaime Lerner havia sido o Moisés – o líder que conduziu o grupo – Rafael Dely havia sido Betsalém, profeta citado uma única vez no Velho Testamento, mas que conhecia os caminhos.

Como sou fraco em Velho Testamento, e também no Novo Testamento, não sei que papel bíblico caberia ao Marcelo Oikawa. Ele prosseguiu a missão de Rafael/Betsalém com auxílio das filhas Paula e Julia Dely e da Lidia, mulher que nunca abandonou a admiração pelo ex-marido, Descobriram juntos fotos e desenhos deixados na antiga casa e descobertos pelo novo proprietário dez anos depois – uma caixa cheia de documentos e fotos da família.

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