A fase de ouro do jornalismo brasileiro

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O jornal mais importante do Brasil.

 

 

 

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É emocionante ver como o Brasil teve bons jornais e a informação era tratada com carinho.

 

Jornal do Brasil História e Memória, 404 pg, Record, 2015, o livro de Belisa Ribeiro sobre o melhor jornal que já se editou no país, só não é ainda melhor porque faltou apuração.

 

A primeira regra de quem se mete com história oral é desconfiar da memória do entrevistado. Caso contrário, aparece o Alberto Dines lembrando que “o governo do Getúlio Vargas, através da Legião Brasileira da Boa Vontade criou a Horta da Vitória”. Faltou um apurador para abrir o relatório do governo e corrigir: o entrevistado estava falando da Legião Brasileira de Assistência.

 

Dói ler mais adiante que o mesmo Dines, trabalhando para a revista Visão em São Paulo, cobriu o auge do Teatro Brasileiro de Comédia (TBC) “de Cacilda Becker, Sergio Porto, Paulo Autran”. Não será Sergio Britto? Ou talvez Sergio Cardoso? Os dois são citados na Enciclopédia Itau Cultural e em outras fontes.

 

Essas pequenas falhas devem ser relevadas pelo leitor – haverá talvez uma segunda edição – porque nunca foi tão necessário falar de jornalismo de boa qualidade e da época em que grandes jornais concorriam no mercado da informação.

 

As narrativas de editores e repórteres mostram que mesmo em episódios como o golpe de estado que derrubou João Goulart em 1964 ou a promulgação do AI-5, que endureceu ainda mais o regime, o JB se comportou bastante bem. Driblou a censura como pode e guardou para a História episódios como o do jornalista Luis Edgar de Andrade. Preso sem culpa passou três dias no Batalhão de Polícia do Exército em pé, nu em uma sala gelada, sob sons altíssimos. No terceiro dia um dos algozes informou ao libertá-lo: “Não era com você!”

 

Está registrado. Aconteceu e pode acontecer de novo. É preciso ficar atento em defesa da democracia.

 

A proprietária do JB, condessa Pereira Carneiro, e o presidente Nascimento Brito deram carta branca aos jornalistas, dentro da linha que a autora chama “democrática-liberal”. Havia grande liberdade para investir em cultura. O Caderno B e o Suplemento Dominical foram praticamente os responsáveis pela chegada da poesia concreta ao Brasil, com Reynaldo Jardim, Mauro Faustino, Oliveira Bastos e Ferreira Gullar. E também Carlinhos de Oliveira, Nelson Pereira dos Santos, Helio Polvora.

 

O chefe da redação de 1978, Luis Orlando Carneiro, informa: “Houve um momento em que essas pessoas, esses corações e mentes de juntaram e fizeram do Jornal do Brasil o jornal de referência nacional e internacional. Nós passamos a ser o The New York Times do Brasil. Lá fora, quando eu viajava, os telegramas da Associated Press, quando queriam falar sobre a situação do Brasil, informavam: “O influente Jornal do Brasil, em editorial hoje…” Eu nunca vi um telegrama dizer assim: “O influente O Globo…”

 

Hoje, leio no Independent: “Brazil’s political process ‘damaged by partisan press’ claim journalists”. No site belga La Libre está:”Brésil: les médias en campagne contre Dilma Rousseff.” A imprensa virou partido político. A melhor maneira de saber o que acontece no Brasil é ler um jornal da Inglaterra, diz a BBC.

 

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O Jornal do Brasil, de Belisa Ribeiro, vem se somar a outros livros sobre o grande matutino carioca. Entre eles deve-se destacar a biografia de Odylo Costa, filho, de Cecilia Costa. (Coleção Perfis do Rio, 200 pg, Editora Relume Dumerá, 2000). O sobrenome não é coincidência – Cecília é sobrinha de Odylo Costa, filho.

 

Esse efe em letra minúscula é testemunho do respeito que o proprietário tinha pelo vernáculo.

 

Odylo chegou em 1956, quando o jornal ainda era escrito à mão e ostentava anúncios classificados na maior parte da primeira página. Os redatores enchiam suas canetas tinteiro e punham-se a trabalhar em aparas de papel, que depois eram decifradas na oficina por experientes linotipistas.

 

Grande renovador do JB e provavelmente do jornalismo brasileiro, Odylo Costa, filho levou para o jornal uma equipe do Diario Carioca  – o jornal que iniciou a revolução formal da imprensa. Valorizou a fotografia, que antes era na base da lâmpada de magnésio estourada na cara dos personagens. Criou o copy desk para acabar com os textos barrocos, o abuso de adjetivos e advérbios, as redundâncias e imprecisões.

 

O jornalismo brasileiro continua cheio de imprecisões e vieses. Só acabaram as redundâncias.

 

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