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A viagem do Papa Francisco aos Estados Unidos foi um sucesso.
Ele disse quase tudo que o mundo queria ouvir. Criticou mansa mas firmemente a falta de atitude dos bispos norte-americanos com as mudanças climáticas. Desafiou os líderes americanos a superar a desigualdade social e a pobreza, a receber migrantes e imigrantes, a acabar com a pena de morte.
Sua autoridade humilde – sintetizada no abandono do palácio papal por uma acomodação menor no interior do Vaticana, a troca dos luxuosos sapatos roxos dos outros papas pelo discreto sapato preto – foi reconhecida como uma mudança nos ventos, um direcionamento do rebanho de Cristo para caminhos mais justos.
Sob aplausos, no Congresso, homenageou a ativista social Dorothy Day, que revelou ter praticado aborto, e foi colocada pelo papa na companhia de Lincoln e de Martin Luther King. Na ONU defendeu que as mulheres têm direito a uma boa educação em todos os países do mundo. Na Catedral de São Patrick o papa homenageou as freiras. “O que seria da Igreja sem vocês? Eu amo muito todas vocês!”
Apesar de toda a festa, houve vozes dissonantes, como a da colunista Maureen Dawn, do New York Times, que colocou esse título ácido em sua coluna deste domingo: “Francisco, o Papa perfeito para o século 19”. Ela sustenta que, enquanto não tratar de dois assuntos cruciais para as mulheres, Francisco será um Papa desconectado com o momento em que vivemos. Primeiro assunto: a ordenação de sacerdotes do sexo feminino. Segundo: punição contra o abuso sexual na Igreja.
A ordenação feminina é uma realidade nas outras religiões. Na Igreja Anglicana – e nada mais parecida com uma Missa católica do que uma Missa anglicana – sacerdotes do sexo feminino são ordenadas desde os anos 1970. Muitas foram ordenadas bispo. (Será bispo ou bispa?)
Leio no Guardian: “A Igreja da Inglaterra nomeou bispo uma segunda mulher. A Rev Canon Alison White é a nova bispo de Hull. O anúncio vem após a consagração em janeiro da Rev. Libby Lane como bispo de Stockport. White, de 58 anos, é casada com o Rev. Frank White, de 65, bispo assistente de Newcastle – é o primeiro casal de bispos da Inglaterra.
Em Israel, mulheres são ordenadas rabino. No Haaretz, encontro artigo do rabino Yehoshua Looks perguntando: “Por que judeus ortodoxos de Israel podem ordenar mulheres como rabinos e judeus da diáspora não podem?” (Leia mais em: http://www.haaretz.com/jewish-world/rabbis-round-table/.premium-1.661807) O rabino Looks comentou semicha (ordenação) a que assistiu no Centro Ortodoxo de Jerusalem para quatro novos sacerdotes, dois rabinos e duas rabbas, o feminino de rabino. O exemplo pode ser seguido por outras comunidades pelo mundo.
Looks comenta a reação do rabino Helter quando um fiel questionou:
“Pelo que ouço, você está dando semicha a mulheres”.
“Não, estou dando semicha a pessoas.”
E o bom papa Francisco, quando vai ordenar pessoas do sexo feminino?