.
.
.
Acabou o governo Obama.
O presidente Obama passa de pé frio a lame duck, pato manco na gíria política. Alguém que está lá para cumprimentar o presidente da Nicaragua em visita a Washington. E apresentar anualmente ao Congresso seu relatório sobre o estado da União. Com o governo avaliado lá embaixo, pouco vai influir na própria sucessão. Se Hillary quiser ter chance de ganhar, fará campanha fingindo que o apoio presidencial não existe.
O trabalho dos republicanos pode servir de exemplo aos brasileiros. Foi uma vitória da humildade, de quem reconhece as próprias falhas. O resultado mostra que é importante ter um partido organizado, que funcione doze meses por ano – e não apenas nas vésperas de eleição.
E organizadamente pensar no time de candidatos que vai colocar em campo. Às vezes, o maior inimigo não mora do lado de lá, está no seu palanque dizendo besteiras radicais, destilando ódio às minorias, condenando programas sociais.
Nesta eleição, os dirigentes republicanos trataram de deixar de lado gente como o terrível Chrys McDaniel, uma mistura de Bolsonaro com Raquel Sherazade, que ataca o hip-hop em seu programa de rádio, refere-se aos mexicanos como “mamacitas”, debocha dos gays e das mulheres.
Gente intolerante é material de primeira qualidade nas mãos dos marqueteiros. Eles podiam, com um mínimo de talento, embalar todos os candidatos republicanos ao senado no mesmo pacote e apresentá-los como “mini McDaniels”.
Jeremy W. Peters e Carl Hulse, no New York Times, analisaram a vitória como o sucesso de um cuidadoso processo de veto a candidatos indesejados e abundante treinamento para garantir que os candidatos não iriam repetir os erros que custaram as derrotas de 2010 e 2012.
Pouca coisa foi deixada ao acaso. Equipes de vídeo gravaram cada entrevista e cada discurso de seus próprio candidatos. Em sessões de mídia training, eles eram apresentados a gravações com as grandes asneiras ditas em campanhas anteriores – quando comentários de Richard Mourdock e Todd Akins sobre estupro e gravidez ajudaram a afundar o partido. (Akins disse que era contra o aborto mesmo em caso de estupro. “O corpo da mulher tem recursos para se livrar da coisa”, garantiu.)
Aqui, Aécio Neves chamou Dilma de “leviana” no debate e mais tarde garganteou: “Em 1º de janeiro, quando você estiver procurando emprego, estarei executando meu programa de governo.”