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Velocita primato dell’Italia fascista é um poster que homenageia o recorde de 709 km/h estabelecido em 1932 por um hidroavião italiano equipado com motor Fiat.
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De vez em quando repito que velocidade e autoritarismo são a mesma coisa.
E insisto – as altas velocidades levam inexoravelmente ao fascismo. Foi assim nos anos 1930. Benito Mussolini aplaudiu quando Tasio Nuvolari humilhou o mundo com a supervelocidade de sua Alfa Romeo P3, “Il Cavallino Rampante”, ou a Maserati 3000, de 8 cilindros.
Power é poder. Qualquer idiota que compra uma camioneta SUV não precisa nem de anfetamina para se achar o rei da estrada. Ultrapassa pela direita, cresce a 150 por hora no seu retrovisor mandando você sair da frente.
Idiotas mais pobres compram uma pick-up e saem costurando na via rápida. Ultrapassam pela direita e crescem a mil por hora no seu retrovisor, no intervalo entre dois radares.
Ontem, no curtíssimo espaço de 20 minutos, uma pessoa foi atropelada na Silva Jardim, esquina com Nunes Machado (14h12), um motoqueiro ficou ferido em choque com ônibus na Erasto Gaertner (14h24) e outra pessoa foi atropelada na Linha Verde Norte, após o viaduto da Avenida das Torres (14h35).
O filósofo Pierre Sansot advogava o urbanismo da lentidão, mesmo reconhecendo que criaturas lentas não gozam boa reputação. Queria um urbanismo que, sem impedir a livre circulação de pessoas e mercadorias, levasse a sério a necessidade de viver e, em consequência, ficar atrás.
“Identifico a lentidão com a ternura, o respeito e a graça das quais o homem e os elementos algumas vezes provam ser capazes.” Por isso, o filósofo assumiu o compromisso de viver lentamente, religiosamente e atentamente durante todas as estações e estágios de sua existência. (Procure no Google ou na livraria “Du Bom Usage de la Lenteur” ou, se preferir “On de Good Use of Slowness”).
Fiquei extasiado numa rua de Londres ao ver dois bicicleteiros pedalando tranquilos na frente daquele ônibus vermelho de dois andares. A pista é exclusiva de ônibus e bicicletas, com ênfase para o “e”.
E a cara do motorista, era de ódio contido? Nada disse. Dirigia com a calma de um monje budista, talvez prevendo que em alguma esquina próxima, as bicicletas tomariam uma rua lateral. Ou talvez feliz porque naquela velocidade – uns vinte por hora – os passageiros, principalmente os do andar de cima, iam aproveitar muito bem a paisagem.