Previsões para abril

.

ghghghg

Alonga, Barigui!

.
Espere 60 dias.

Você ouvirá o coro dos saudosos do verão. Gente mostrando foto na tela do celular. Não é da filha loirinha, é do ceu azul lá no fundo. Ele só acontece nesta época, nesta latitude e com este inusitado bloqueio atmosférico.

Em abril, nem todos conseguirão definir aquele perfume de flor desabrochada. Quando chegou era eterno, num segundo evanesceu.

Só os privilegiados terão no corpo a memória tépida da água do Pontal. E do som do mergulho, do arrepio da brisa que te apanha de madrugada com a janela do quarto escancarada.

Para o curitibano básico – aquele de coração duro e olhar sem lume – o verão é um incidente. Às vezes, verdade, sublinhado pela imagem do passeio pela baia naquele dia de lestada – o balé dos botos em frente da ilha das Peças quando se repetirá?

Ou pelo caminhar suingado da moça que abandonou os andarilhos (*) do Parque do Barigui. Languida foi se alongar na relva com os ginastas – os corpos em harmonia absolutamente fantástica.

Haverá, claro, insensíveis que só falarão dos prejuízos para a safra de soja, da necessidade de mais reservatórios para a cidade não ficar sem água, do interesse nacional em fazer o vento produzir energia em vez de perder tanto tempo sustentando kites.

E haverá – horror! – promotores turísticos, gente de poucas luzes, capaz de acreditar na Copa da Fifa e no discurso do empreendedorismo senil. Só muita incompetência, inoperância e corrupção para não transformar todas as nossas belezas em dólar e euro. (Seguem-se números sobre o turismo no Mediterrâneo e no Caribe.) Aqui, cada por do sol vale uma fortuna por três motivos 1) é belo; 2) desenrola-se neste pedaço do Brasil livre da dengue e da febre amarela e 3) os números da segurança pública melhoram dia a dia e a criminalidade diminui con-sis-ten-te-men-te.

Por isso, esqueça o ladrãozinho e fotografe, grave em vídeo, publique no Facebook e no Instagran. Porque a memória do verão é pequena como um frame e leve como a pluma do tiê sangue; depressa será ofuscada pela bruma outonal. Para dar ao verão uma pequena sobrevida é urgente engarrafar esse ar úmido e tépido para futuro consumo em bar que conserve mesas ao ar livre.

(*) – Alguns são grisalhos, outros carecas – todos barrigudinhos.

Esta entrada foi publicada em Sem categoria. Adicione o link permanente aos seus favoritos.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *