Pequena reflexão sobre o pedal, o patrimonialismo e a malandragem no trânsito

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Tá no Standard a notícia de que agora ciclista que furar o sinal é processado por crime e recebe multa de 400 libras (2.800 reais).

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Outro dia morreu mais um menino que pedalava a bike agarrado à rabeira de um ônibus. Centenas de ciclistas e motoqueiros continuam furando o sinal vermelho como se a lei de trânsito fosse apenas para os otários parados em seus automóveis.

Essa coisa de lei que não pega é mania brasileira amplificada em Curitiba. No caso, a lei que não pegou – corrijo: que só pegou parcialmente – é o Código Nacional de Trânsito.

O CNT também proíbe rachas, mas basta passar às 23h pelo finzinho da 7 de Setembro pra ver os Porsches enfrentando os Lamborghini a 250 por hora. (Aqui entra a visão patrimonialista: rico é dono da rua – e azar de quem estiver no caminho, como aqueles dois rapazes assassinados na saida do Shopping Barigui em 2009 pelo deputado a 190 por hora).

É proibido andar na contra-mão, mas é incrível como a gente cruza com idiotas tentando transformar em atalho uma rua de mão única.

Quando alguém fura o sinal vermelho está desobedecendo uma das leis mais antigas do mundo moderno. Existe desde 1868, quando um engenheiro inglês chamado John Peake Knight inventou um dispositivo com luz verde e luz vermelha, iluminado a gás, para acabar com os acidentes entre carruagens e tilburis (charretes), nas ruas de Londres. Outro inglês, o Gregor Tilbury, foi o inventor desse veículo mais barato, de duas rodas.

Por que o ciclista do iFood fura o sinal?

É problema de alta indagação filosófica. Na prática, porém, ele fura o sinal porque é estimulado pelo algorítimo capitalista a entregar depressa as pizzas que transporta nas costas e talvez ganhar mais um dinheirinho.

E por que o ciclista que não é do iFood e o garoto da Harley também furam o sinal?

Porque eles se acham rebeldes, não hã câmera gravando e o carro na outra rua ainda está longe. Sentem-se espertos porque obedeceram a uma razão de primeira ordem (RPO)
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O sinal vermelho, o Código Nacional de Trânsito, as recomendações da mãe são razões de segunda ordem (RJSO).

A importância de ignorar as razões de primeira ordem e obedecer às razões de segunda ordem é explicada aqui em artigo do professor Lênio Streck.

Os ciclistas de Londres que furam o sinal são multados em 400 libras (2.800 reais aproximadamente) e enquadrados criminalmente.

A maioria do povo não fura sinal. Nem protagoniza racha na Sete. Obedece às razões de segunda ordem. Meio por instinto, a maioria é da turma do Aristóteles, entende o fundamento ético da vida em sociedade que a lei te trânsito sintetiza.

Então anote aí:

O verdadeiro malandro para no vermelho.

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