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Um sábio político do interior ensinava:
-Para ganhar a eleição você tem que falar mal do outro candidato. Então você olha bem a cara dele e decide: se ele tem cara de corno, inventa que a mulher trai ele com o segurança. Se tem cara de viado, conta que ele vive indo a outra cidade onde há uma sauna gay. Se tem cara de honesto, espalhe que ele é ladrão.Todo ladrão que conheci tinha cara de honesto.
Fazia uma pausinha antes de concluir:
-Mas não invente que ele é duas coisas ao mesmo tempo porque aí o povo não acredita.
Foi isso que aconteceu no Brasil. Para virar a eleição inventaram que a urna eletrônica estava roubando voto para o PT. Para melhorar a história contrataram um hacker para invadir o site do TSE e fabricar um mandado de prisão contra o Xandão. Aí convenceram o povo que era preciso ir para o muro do quartel e orar contra o comunismo. No fim invadiram o Congresso, o STF, o Palácio. E quebraram até o relógio de D. João VI.
Só não deu certo porque inventaram muita coisa ao mesmo tempo.
Não é novidade. No Estado Novo forjaram o Plano Cohen. Em 1954, o Atentado da Rua Toneleiros. No ano seguinte, o general Lott deu o contragolpe preventivo no Café Filho. E Jânio? Diziam que estava bêbado. Em 1964, a ameaça comunista. Em 1968, cem mil estudantes na rua, AI-5. Depois a bomba do Rio Centro. Golpes e contragolpes acontecem em todo o mundo. Dependem só de uma história em que o povo acredite.
Um flashback. No final do século 18, mandava na Espanha o Conde de Cabarrús, francês naturalizado espanhol que começou pobre, subiu todos os degraus do poder e chegou a Ministro das Finanças. Convenceu o pais a entrar em guerra com a França e, como faltou dinheiro, intermediou empréstimos com banqueiros internacionais. A Espanha perdeu a guerra mas Cabarrús ficou rico com as comissões.
Um dia, resolveu publicar um livro resumindo suas experiências. E escreveu:
Perfurar tuneis, redirecionar rios, conquistar o oceano; todos estes milagres da inteligência humana são brincadeiras quando comparados com a tarefa de fazer o homem ver e agir de acordo com o seu verdadeiro interesse (1).
Seu dele ou seu de você?
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(1) Francisco de Cabarrús – Sobre los obstáculos de opinión y el medio de removerlos. 1795