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A notícia percorreu as redes de wattsup, os posts do Facebook, o Twitter, o Instagram, e blogs sem conta.
A professora Mari Fernandes, que supostamente mora no interior de São Paulo, escreveu ao Ministro que falou mal dos mestres. Suavemente indignada, exaltou o trabalho dos que sacrificam parte dos vinte dias de descanso anual corrigindo provas e preparando aulas.
Como não amar tanta devoção às crianças? Como desacreditar quando ela afirma que os culpados pela tragédia nacional são os políticos e os burocratas empedernidos?
“Não senhor Ministro e senhores burocratas comissionados, não se preocupem! Os professores não levarão este país a falência, sabe por quê? Porque se depender da consciência política de nossos representantes, ele já está falido. Sim, esta falência atribuímos a todos os deputados, senadores, prefeitos e governadores que fazem da política uma carreira e não sabem que não existe dinheiro público, existe dinheiro do povo!”
Eu ia me comover, quando lembrei: a professora Mari Fernandes não é professora. Aliás, nem é gente – é um robô.
Mas não morde, não prejudica ninguém. Só quem acredita nela.
O escândalo da Cambridge Analytica permitiu confirmar que há centenas – milhares? – de robôs trabalhando nas redes sociais.
Estão em todos os debates. Assumem o papel de professores, pais de família, torcedores do Corinthians, trabalhadores desanimados com tanta degradação. A missão dos robôs – como a dos idiotas úteis – é disseminar boatos e fortalecer convicções.
Por exemplo: política é coisa de bandido.
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A professora Mari não fala mal dos juízes, ou dos militares, ou do Jornal Nacional, ou da oligarquia financeira que comanda o país. Não tem programa para isso.
Também por falta de programação ignora a má distribuição da riqueza, a concentração da propriedade rural, os leilões do pré-sal, as empresas de transmissão de energia vendidas na bacia das almas.
Mas sempre estará por ai para duvidar da honestidade da urna do Tribunal Eleitoral. E defendendo a família, o equilíbrio dos contratos, a lei e a ordem.
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“…você simplesmente não consegue ver diferença entre um robô e o mais autêntico dos seres humanos.” (I. Asimov)