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No dia 31 de julho, uma segunda-feira, o lago do Passeio Público começou a ser tratado. O povo reclamava de certa espuma branca e mal cheirosa sobre a água, que os funcionários insistiam em classificar como penas das paineiras.
As máquinas foram limpas, a água esverdeada jogada no Rio Belém. Apareceu o fundo de cimento coberto de lama e limo.
Os funcionários da Secretaria do Meio Ambiente são dedicados, mas respeitam o tempo das coisas e até hoje, mais de 90 dias, o lago continua vazio. Um serviço interminável. Quem pergunta recebe vaga promessa de que lá pelo Natal tudo estará pronto.
Então está combinado: fica tudo para quando o coral do Bamerindus, digo, do HSBC, desculpe, do Bradesco, encerrar seu show anual, lá pelo dia 20 de dezembro. Se tudo correr bem, o apresentador anunciará que no Belém ocorreu o milagre do lago que ressurgiu do cimento, onde navega um pedalinho mágico, e as carpas que escaparam da frigideira nadam em água translúcida.
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O momento não é bom para o pipoqueiro, que vendia o dobro no tempo das crianças e das carpas. Nem para o retratista, que desenha cada vez menos. Nem para os garçons do restaurante.
Claro, era preciso fazer alguma coisa. Em março, Solange R, uma frequentadora, postou no site TripAdvisor, uma avaliação indignada: “Abandono! Localizado no centro de Curitiba, com muitas árvores e pássaros. Poderia ser um paraíso, mas está completamente abandonado, canteiros secos, sujos e mal frequentado.”
Quando reclamações assim começam a sair no maior site de turismo do mundo, também não é bom para a imagem internacional de Curitiba, que já frequentou a lista das cidades ecologicamente corretas onde todos queriam morar.