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Sem o Nego Pessoa, quem vai me dizer o que ler?
Pego o Carlos Drummond de Andrade, obra completa, de 1964, editado pela Aguilar em papel bíblia. Era do Nego. Todo anotado, um pouco a lápis, um pouco com bic vermelha.
Cobicei, fizemos a troca pelo Garcia Lorca.
O tempo que passa preocupava o Drumond. “Sinto que o tempo sobre mim abate sua mão pesada. Rugas, dentes, calva…Uma aceitação maior de tudo, e o medo de novas descobertas.”
Na página 195, o Nego anotou em vermelho os versos da Cidade Prevista: “Irmãos, cantai esse mundo que não verei, mas virá um dia, dentro em mil anos, talvez mais…não tenho pressa.”
Agora ele foi, todos vamos daqui a pouco, com esperança de encontrar o país de riso e gloria que o Poeta cantava. Sem dor, sem febre, sem ouro.
Onde seja possível torcer pelo Coxa na arquibancada do Atlético.
Onde, como escreveu o Carlos Alberto Pessoa em “O velho e rude esporte bretão”, seja possível viver cento e quinze anos e escrever as obras completas de William Shakespeare.
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