.
.
Na gramática, mudou o nome de tudo, mas o velho pronome demonstrativo continua o mesmo.
Aquele (aquela) é pronome demonstrativo da terceira pessoa. Indica, segundo o Aurélio, conhecimento da coisa ou pessoa indicada. “Tu lembras aquela mulher que há muito tempo te apresentei/viveu uns tempinhos comigo/depois foi embora/pra onde não sei”. (Samba de Benor Santos/Amancio Samuel Moraes gravado por Blacaute na década de 1950.)
Mas também indica admiração. Uma coisa ou alguém que você aprecia. Porsche
– aquele carro. O José é aquele amigão. “Alô, moça da favela, aquele abraço.” (Gilberto Gil, Aquele Abraço.)
A Polícia Federal investiga evidências de que foi nesse sentido que Geddel Vieira Lima usou o pronome demonstrativo na conversa com Eduardo Cunha. O relato está na Folha de S.Paulo de hoje sob o título “Aliado de Temer na Caixa integrou esquema, afirma Polícia Federal”. Eis o trecho da matéria, assinada por Walter Nunes:.
“Segundo a PF, Cunha diz que “desirre” (Roberto Derziê) não havia atendido o telefonema do empresário Henrique Constantino, dono da Oeste Sul. Derziê na ocasião era diretor-executivo de pessoa jurídica da Caixa.
A mensagem de Cunha foi enviada às 16h15. Geddel retornou 1h32 depois dizendo que Derziê estava em São Paulo, mas ligaria para o empresário. Pergunta se o problema “é aquela questão das garantias”.
Cunha responde que sim, e recomenda “resolver como você [Geddel] falou”.
Sem dúvida, Geddel ofereceu sua contribuição ao estudo das transformações caleidoscópicas dos pronomes demonstrativos nas línguas românticas – português, espanhol, italiano, romeno etc. “Aquela questão das garantias” um dia poderá figurar em tese de doutorado no curso de linguística de alguma grande universidade. Indica que nossa língua portuguesa continua rica e sua dinâmica evolutiva é intensa.
Não dá infelizmente para dizer que é uma contribuição valiosa; com as novas revelações da Lava Jato, o valor das propinas aumenta todo dia.
A megapropina de hoje pode se transformar no agradinho modesto de amanhã.