O filme é belo, a imagem do cinema um lixo

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Isabelle Huppert faz o papel de Michelle.

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Elle, com Isabelle Huppert, um dos melhores filmes do ano, está na sala 4 do Shopping Novo Batel, um dos piores cinemas que Curitiba já conheceu, aqui incluídos os falecidos cinemas Broadway e Odeon, dos anos 1950.

Antes de comentar a imensa qualidade artística do filme do holandês Paul Verhoeven (Basic Instinct, Instinto Selvagem) é urgente lamentar que não exista um serviço de fiscalização capaz de impedir que alguém exiba um filme sem o equipamento adequado. A tela está escura, a imagem é péssima. O velho Odeon, onde passavam os faroestes de Randolph Scott, da Republic, era bem melhor.

Um filme chocante. Começa com Michelle, proprietária de produtora de vídeo games de sucesso, sendo violentada sob o olhar curioso de seu gato. O violador usa roupa preta de ninja e foge após o crime, que não é comunicado à polícia. A heroína limita-se a revelar casualmente o fato a amigos durante um jantar em restaurante fino – o garçon quase derruba a garrafa magnun de champagne.

A história é amoral. Não é juízo de valor, é constatação. Os personagens atuam na fronteira entre o aceitável e o indecente, do ponto de vista ético e também da legislação em vigor. Convicções da chamada sociedade burguesa são docemente contestadas.

Elle foi sucesso no Festival de Cannes. É indicado oficialmente para representar a França no Oscar de 2017. Recebeu comentários entusiasmados de críticos como A.O. Scott, do New York Times. “Paul Verhoeven conduz o público através de um labirinto de ambiguidades meticulosamente construido. Mistura nossas crenças e expectativas a cada mudança de rumo da história.(…) Você pode ter suas dúvidas sobre Elle, mas não pode evitar de acreditar na força do filme.”

Xan Brooks, no Guardian, concorda: Elle, é uma brilhante comédia de humor negro que ofende padrões de decência. Jamais seria norte-americano. O papel de Michelle, que Isabelle Huppert desempenha com brilho, não foi aceito por Nicole Kidman, Julianne Moore, Cate Blanchet e Kate Winslet. Por isso o cinema europeu é importante. Conserva a capacidade de propor questões que o cinema de mercado finge desconhecer.

Deveríamos ter o direito de ver e discutir essa obra polêmica de alto valor artístico. Mas qualquer avaliação é prejudicada pelo equipamento de projeção velho e sem manutenção. Se um açougueiro vende carne estragada é punido pela Vigilância Sanitária e pelo Procon. Contra imagem podre não há quem nos socorra.

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