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A constituição de Ulisses removeu o entulho autoritário mas muitas sementes democráticas ainda não germinaram.
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O Laurentino Gomes disse sexta-feira na Academia Paranaense de Letras que é bom analisar os fatos com a perspectiva do tempo. Espere uns trinta anos e veja como a coisa ficou.
Exemplo: a “ditadura Vargas” trinta anos depois virou o “governo do Getulio”.
A “revolução redentora” em três décadas tornou-se o “golpe de 64”.
Do que será que vão chamar a “constituição cidadã”, que em 2018 completa trinta anos?
Ninguém sabe. Alguma coisa deu certo. Muito não aconteceu.
Que fim levou o mandado de injunção, que obrigaria o legislador a escrever a lei que falta para cumprir a ordem constitucional?
E a iniciativa popular? E o habeas data?
Mas Ulisses Guimarães ficou. Continuará sendo o pai desse imenso documento e o autor de um dos mais bonitos discursos que o Brasil já ouviu.
No dia 5 de outubro de 1988, ao entregar a nova Carta Magna, ele proclamou sua fé na sociedade brasileira e no futuro do pais.
Estou relendo com certa esperança o que ele falou:
(…)
A sociedade sempre acaba vencendo, mesmo ante a inércia ou o antagonismo do Estado.
O Estado era Tordesilhas. Rebelada a sociedade empurrou as fronteiras do Brasil, criando uma das maiores geografias do mundo.
O Estado encarnado na metrópole resignara-se ante a invasão holandesa no Nordeste. A sociedade restaurou nossa integridade territorial com a insurreição nativa de Tabocas e Guararapes sob a liderança de André Vidal de Negreiros, Felipe Camarão e João Fernandes Vieira que cunhou a frase da preeminência da sociedade sobre o Estado: Desobedecer a El Rei para servir El Rei.
O Estado capitulou na entrega do Acre. A sociedade retomou com as foices, os machados e os punhos de Plácido de Castro e seus seringueiros.
O Estado prendeu e exilou. A sociedade, com Teotônio Vilella, pela anistia, libertou e repatriou.
A sociedade foi Rubens Paiva, não os facínoras que o mataram.
Foi a sociedade mobilizada nos colossais comícios das Diretas Já que pela transição e pela mudança derrotou o Estado usurpador.
Termino com as palavras com que comecei esta fala.
A Nação quer mudar. A Nação deve mudar. A Nação vai mudar.
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PS – A íntegra aqui.