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77% dos manifestantes de domingo na Paulista tinham curso superior, revela o Datafolha; 63% ganham mais de cinco salários mínimos e destes 37% ganham mais de 10 SM; a idade média era de 45 anos e 11% dos manifestantes declararam-se empresarios. Está na Folha de S. Paulo de hoje.
Os blogs que apoiam Dilma comemoraram: os atos continuam elitizados e elite sozinha não muda governo.
Então, temos que procurar outra saida para a crise.
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O professor Clinton Rossiter, um craque em história e constituição norte-americana, deu aula até 1970 na Universidade de Cornell. Em artigo publicado no New York Times ele ensinou:
“Nenhum americano pode contemplar a presidência da República sem um sentimento de solenidade e humildade. Solenidade face à concentração de poder única na história da humanidade. Humildade ao pensar que ele ajudou a escolher a pessoa que carregaria tanto poder e gozaria tanto prestígio.”
Estudiosos da política sugerem a releitura de Rossiter à luz dos recentes acontecimentos políticos brasileiros. Seja quem for que ocupe a presidência da República, dentro do modelo constitucional americano que o Brasil imitou a partir da constituição de 1891, deve despertar nos cidadãos o mesmo sentimento de solenidade e humildade.
Vale notar que, mesmo após um cruel bombardeio da oposição e da grande midia, mais de 70% dos eleitores de Dilma e, anteriormente, de Lula, conservam a identidade com eles, e lembram que ajudaram a colocá-los no poder, na mais radical reorientação política, economica e social da República. Isso foi constatado em pesquisa do Instituto Vox Populi e comentado pelo diretor Marcos Coimbra.
“Lula, apesar da incessante campanha para desmoralizá-lo, continua a merecer o respeito e o carinho de uma parcela da sociedade maior que qualquer político jamais teve em nossa história. Atacá-lo é atacar esses milhões de pessoas.”
De <http://www.cartacapital.com.br/revista/891/hora-de-decidir>
Não é possível trocar de presidente sem ofender os direitos desses milhões que votaram em Dilma e Lula. A idéia da substituição “judicial” sem que o pais sofra consequências é no mínimo ingênua. Mas é possível renegociar com a nação regras constitucionais que viabilizem o bom funcionamento do Estado em benefício dos interesses do Brasil.
Na França, em 1958, antes de ser nomeado presidente do conselho, em 1° de Junho de 1958, o general de Gaulle encarregou um grupo conduzido por Michel Debré (futuro primeiro-ministro) para preparar um projeto de constituição, aprovado pelo referendum (80% a favor) em 28 de Setembro de 1958, tornando-se a constituição de 4 de Outubro de 1958, designada por Constituição da Quinta República. (Wikipedia, em “República Francesa”.)
Não há exemplos de reforma constitucional democrática sem o concurso da opinião pública através da eleição de uma Assembléia Constituinte ou do referendo a um projeto aprovado pelo Parlamento.
Existem caminhos para a solução dos problemas nacionais que são ignorados em favor do flaflu das ruas e das midias sociais. Bem ou mal, o Congresso Nacional está funcionando. Há inteligencia nas universidades e nas empresas. Ainda somos donos do pre-sal. Somos um pais-continente.
Então, é procurar os pontos de convergência, as identidades, a concertacion, como fizeram os espanhois em 1982, com a vitória do PSOE – Partido Socialista Obrero Espanhol.
Houve o saneamento da economia e a consolidação do estado de bem estar social. Felipe Gonzales foi eleito quatro vezes, as três primeiras por maioria absoluta. Depois descolou-se da esquerda clássica, brigou com os sindicatos e caiu. Mas a democracia espanhola continuou funcionando bem.
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Não há República sem democracia, nem democracia sem política, nem política sem partidos, nem partidos sem negociação e moderação.
Clinton Rossiter