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A biografia do Alex – maior chutador e melhor passador que já vestiu a camisa do Coxa – pode ser resumida na declaração da página 139: “Porra, nunca marquei ninguém!”
A essência do livro é essa defesa de tese: sem marcar, sem morder, você não vai para a seleção, mas craque não precisa perseguir zagueiro e fica proibido de dar carrinho. Deve, sim, voltar para ocupar espaço, cercar educadamente o adversário e correr sempre que necessário.
O futebol é feito de poucos craques – nenhum, na opinião de Alex, com o talento de Zico – e muitos estivadores da bola, afeitos às práticas anticivilizadas do pisão na coxa (Felipe Melo), joelhada na coluna (o colombiano Camilo Zúniga), carrinho por trás (Rodrigo Costa, do Marília, sobre Keirrison).
Você termina de ler a biografia sabendo um pouco mais sobre o lado ruim e o lado bonito do futebol. E se sente recompensado ao encontrar, por exemplo, um belo texto de Armando Nogueira sobre o nosso craque:
“Ronaldinho como que tem um trato com a bola: ele procura estar sempre no lugar onde ela quer que ele esteja. O outro, Alex, é diferente: a bola é que tenta estar sempre no lugar em que ele quer que ela esteja. Se ele se omite, é pro bem da bola e da equipe.
Aliás, o verbo justo não é omitir-se, que Alex não se esconde jamais. Alex transfigura-se. Mimetiza-se. Está em campo e não está. É esquivo, fugidio, intermitente.
Sempre houve figuras assim no futebol.
Jogar sem a bola é exercitar a virtude do desprendimento. Alex joga sem a bola. Finge aceitar a marcação.
Quando o sanguessuga menos espera, ele ressurge, chuteiras refulgentes, como lâminas afiadas.”
O tricampeão Tostão endossa e acrescenta: “Alex era muito técnico, minimalista. Em poucos lances e com poucos movimentos decidia a partida. Não tinha excessos nem firulas. Mesmo sendo um mais armador, de passes espetaculares, fez também muitos gols, mais de quatrocentos, muitos belíssimos, magistrais.”
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Alex, a Biografia, de Marcos Eduardo Neves, Editora Planeta, 39 reais, 236 pag. (2a. reimpressão)