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Os 8 Odiados (The Hateful Eight) é um filme que exige muito do espectador. Ninguém sai do cinema sem um comentário. Depois de três horas e oito minutos de filme você tem o dever de amá-lo. Ou de odiá-lo. Ou de confessar que está morto.
Houve quem reclamasse o excesso de violência – mas não se deve esperar delicadezas de Quentin Tarantino. Não é diferente do que aconteceu na guerra civil e do que ainda acontece nas ruas dos EUA (e do Brasil), onde multiplicam-se os incidentes em que a polícia acaba matando adolescentes negros desarmados. Houve quem insistisse em que dava para deixar o filme mais curto – tudo bem, cara, onde você cortaria? Difícil responder. Uma professora localizou o problema naquela cabana fechada no meio da neve onde quase tudo acontece – isso é teatro filmado. Estava certa. Esqueceu apenas dos diálogos, o melhor nesse oitavo filme de Tarantino, ao lado da fantástica trilha sonora – a primeira que Ennio Morricone concorda em escrever em 40 anos.
O filme, de acordo com o diretor, é inspirado pelos seriados da TV Bonanza (1959), O Homem de Virginia (1962) e Chaparral (1967): “Duas vezes por temporada, os seriados tinham um episódio no qual um bando de foras da lei faz refém o personagem principal. Cada um tem uma história para contar sobre o próprio passado, que pode ser verdadeira ou não. Feche esses caras numa cabana no meio do nada, com uma nevasca lá fora, dê armas a eles e veja o que acontece!”
Samuel Jackson é o Major Marquis Warren, o personagem que vai dar o tom da história. Anos após a guerra civil não deixou de usar o uniforme azul do Exército da União, mas agora é um caçador de recompensas. Na primeira cena, no meio da nevasca, o Major aparece sentado sobre três corpos. São criminosos que caçou e o pagamento será feito mediante a apresentação do cadáver. Pede uma carona à diligência que leva John “Hangman” Ruth (Kurt Russel) e sua prisioneira Daysi Domergue (Jennifer Jason Leigh). Os dois conversam sobre a profissão e John explica porque não mata a prisioneira. “Depois de me pagarem, vão enforcá-la. O nome disso é Justiça.”
A tempestade fica mais forte e a deligência para na cabana de Dana Gourrier (Minnie Mink) e seu companheiro Sweet Dave (Gene Jones), onde a ação se desenvolve. Não se arrasta – é firme e compassada, como o tema de Morricone, o rítmo pesado marcado por tímpanos. Afinal, para que pressa? É preciso esperar até que toda aquela neve termine de cair. A história se divide em capítulos, narrados em off pelo próprio Tarantino.
Inimigo de câmeras digitais, o diretor conseguiu que o filme fosse feito em celuloide pelo processo Ultra Panavision, em tela super larga, numa relação de 2.76:1. O IMDB informa que não era usado desde Khartoum (1966). Os irmãos Weinstein investiram entre 8 e 10 milhões de dólares na readaptação com lentes anamórficas de 50 cinemas em todo o mundo e no treinamento de 200 projetistas, em pré-lançamento que atraiu vasta cobertura publicitária.
A campanha promocional teve outro momento importante no dia 19 de dezembro, uma semana antes do lançamento. Uma cópia do filme foi vazada online. Em 24 horas havia atraido 569.153 acessos únicos. Na caça ao Oscar, saiu na frente de todos os concorrentes.
A bilheteria já ultrapassou 30 milhões de dólares, para um orçamento estimado em 44 milhões. E só agora o filme começa a ser exibido na Europa, Ásia e América do Sul. Os prêmios vão ajudar a receita. O filme foi indicado três vezes para o Globo de Ouro, cujo resultado costuma antecipar o que vai acontecer no Oscar. Melhor roteiro cinematográfico para Quentin Tarantino, melhor trilha original para Ennio Morricone e melhor atriz coadjuvante para Jennifer Jason Leigh.
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