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O cearense Antonio Couto Pereira, (na foto ao lado do interventor Manoel Ribas), organizou aquele clube de alemães, venceu campeonatos e construiu o estádio que hoje leva seu nome.
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Há uma nuvem negra sobre o futuro do Coritiba.
Não o futuro próximo, que ficou mais ou menos previsível depois de empatar com o Figueirense no Couto Pereira. Haverá briga de cartolas, um jogando sobre o outro a culpa pelo ano perdido.
Vimos, nos últimos meses, troca de técnicos, compra de “bondes”, espionagem na corte, fogueira de vaidades, incompetência gerencial. Lembra do Deivid, que só fez um gol e está custando 10 milhões na justiça? Pois é. A incompetência chegou ao máximo quando, – salários atrasados, o time no precipício – lançaram aquele balão de ensaio para vender o Couto e construir do “estádio mais moderno do Brasil”. Falta de juízo, oportunismo, o quê?
Vamos ser generosos – foi por falta de agenda.
Então, antes de tudo, o futuro a médio prazo depende de trocar as prioridades: em vez de estádio novo, reorganizar o clube como o cearense Couto Pereira reorganizou em 1916 aquela sociedade futebolística de alemães. Reformar o estatuto. Democratizar a eleição do Conselho Diretor. O Internacional criou um grupo de trabalho e fez a reforma estatutária. Todo associado com um ano de clube (há 100 mil deles) tem direito de votar e ser votado na assembleia geral que elege o conselho deliberativo. O voto é pessoal e unitário, não há procuração. É assegurada a transparência das contas.
Um bom modelo mínimo para começar a discutir a vida nova.
Há outros, maiores. Não custa olhar o máximo – o estado-da-arte em matéria de administração do futebol. O Manchester United, por exemplo, é uma sociedade anônima, baseada nas Ilhas Caiman, com ações na Bolsa de Nova York. Outro mundo. No site oficial, confessa seus lucros. No ano passado, vendeu cinco milhões de itens, entre eles dois milhões de camisetas. Seus jogos foram assistidos em quase 200 países por dois bilhões de pessoas, o Facebook do Manchester tem 66 milhões de conexões, bem mais do que as 8,4 milhões de conexões do New York Yankees ou as quase 8 milhões do Dallas Cowboys. O site do Corinthians, Almanaque do Timão, o maior do Brasil, tem 4 milhões de pageviews.
O ano fiscal de 2014 do United registrou receita recorde. O EBITDA (lucro depois de pagar impostos) teve um crescimento de 24.1%. As receitas de patrocínio subiram 49.4%. As receitas de broadcasting aumentaram 33.7%, graças aos novos acordos domésticos e internacionais de transmissão. O clube fechou um super pacote de patrocínio com a Adidas – 750 milhões de libras durante dez anos, iniciando em agosto de 2015.
Ah, mas o Coritiba nunca vai ser um Manchester United, falam: a) os descrentes e b) gente com complexo de vira-lata.
O clube tem pouco mais de 12 mil sócios pagantes, deve 200 milhões de reais e a execução orçamentária é uma caixa preta. Além disso, a cidade de Curitiba não é Manchester e o Brasil não é a Inglaterra, apesar das cinco Copas do Mundo.
Mas lá e cá o futebol é o esporte mais popular, aquele que cria lealdades que vão além da vida. A paixão entra no DNA e passa de pai para filho.
Lá e cá existem pessoas capazes de planejar um clube de futebol bem organizado, onde o sócio tenha poder, a administração seja transparente.
Lá e cá sempre haverá clubes que no fim do ano apresentem receita positiva e, se possível, mais um título de campeão.
Só precisa recomeçar certo.
O Tim (Elba de Padua Lima), nosso grande técnico de 1971, 1973 e 1979, advertia os que chegavam ao time de cima: “Você começa a ser craque quando aprende a amarrar direito a chuteira”.
John Wooden, (1910-2010), o lendário treinador de basquete da UCLA, que foi campeão nacional dez vezes em doze anos, acrescentava: “O talento coloca você lá em cima; o caráter o mantém lá.”
Então, estamos combinados: o problema nada tem a ver com futebol.