A ópera diária e o nosso J. Peachum

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Doze horas por dia, sete dias por semana.

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Olho os mendigos mendigando pela cidade.

Muitos sentados sob a marquise. Alguns na rua, na contramão, no meio do tráfego. Imagino que em algum lugar de Curitiba mora nosso J. Peachum.

Como sabem todos os que leram ou assistiram à Opera dos Três Vintens, de Bertold Brecht e Kurt Weil, J. Peachum é um homem de negócios, presidente da organização Amigo do Mendigo Ltda.

Seu compromisso – a missão da empresa – é oferecer suporte de alto nível às atividades de mendicância, inclusive assistência jurídica, em troca de 50% do total arrecadado, que deve ser acertado semanalmente.

Com olho experiente, ele recebe, seleciona e treina aqueles que vão ocupar as melhores esquinas, para que a atividade mendicante produza o máximo lucro. É preciso justificar o investimento em muletas, próteses, cadeiras de roda, falsos olhos de cego, roupas andrajosas, cicatrizes horríveis de silicone, que aumentam a comoção dos povo e o tamanho da esmola.

Atenção especial é dedicada aos falsos carrinheiros, como o da foto.

Ele recebe a carroça, o cavalo, uma mulher bem magra, convenientemente pálida, e duas crianças. A esquina é boa, na Nilo Peçanha, uma das top ten. Por ali passam milhares de carros dirigidos por curitibanos e curitibanas de classe média alta, gente de índole caridosa, motivada pela mensagem que está em toda parte – É dando que se recebe.

Nosso J. Peachum, claro, é generoso com os homens da lei que em troca olham para o outro lado quando passam pela esquina do falso carrinheiro. Talvez seja também amigo dos tais conselheiros tutelares, que não levam as crianças para um abrigo, mesmo quando chove e faz frio.

E deve ser longa a lista de amigos do J. Peachum curitibano, pois também a FAS passa ao largo com seu carro de serviço.

E se alguém perguntar ao Falso Carrinheiro (agora com letra maiúscula) se ele não tem vergonha de explorar a boa fé do povo usando pobres crianças – ainda por cima crianças alugadas! – ele vai se indignar.

-Não tenho vergonha não, malandro, esse é o meu trampo. Por acaso estou pedindo comissão de 3% sobre seu contrato com o governo? Diga se sou achacador. Diga se aceito propina, se requeiro auxílio-moradia, se sonho com a PEC da bengala.

Respira fundo.

-Sou só um falso mendigo, cara. Mendigo doze horas por dia, sete dias por semana.

Dá outra paradinha.

-Sabe pra que? Pra sustentar toda essa corrupção!

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