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Há dias, o deputado Elio Rusch irritou-se com um professor que se manifestava na Assembléia Legislativa.
-Se o cidadão ali quiser usar a tribuna, seja candidato, faça 50 mil votos e venha aqui!
O deputado do DEM acha que democracia é ter 50 mil votos, talvez porque obteve 57 mil votos na eleição do ano passado. Se fosse o Ratinho Junior diria: “Se quiser vir para cá, faça 300 mil votos!”
Claro que a idéia, que vamos chamar de Teoria de Rusch, é furada. Para ter a palavra basta ser cidadão, ter direito a voto, sustentar o Estado com os impostos que paga.
Democracia – todo mundo sabe – é um sistema político inventado na Grécia cinco séculos antes de Cristo.
Naquele tempo todos iam à praça, a tribuna era livre e todos votavam para decidir os grandes assuntos da cidade.
Ainda hoje há cantões suíços onde os cidadãos decidem as coisas em assembleia popular.
E uma assembleia popular resolverá, quarta-feira, a suspensão de grave geral dos professores do Paraná.
Os representantes do povo, candidatos eleitos como procuradores dos cidadãos, apareceram no século 18, com a Revolução Francesa e a Revolução Americana. A população da República tinha aumentado tanto que não dava para reunir todo mundo na praça pública. Surgiu o sistema representativo, com defeitos que só aumentaram com o tempo.
Defeito nº 1 – Elegemos representantes que não representam a maioria dos cidadãos. Alguns não representam nem a minoria – ganharam seus mandatos graças a um puxador de votos tipo Tiririca. Ratinho Junior arrastou seis com ele.
Defeito nº 2 – Uma vez eleito, o representante pode trair o eleitor, que não consegue cassar seu mandato. (Tudo bem, existe em alguns países o recall, raramente acionado.)
Defeito nº 3 – Para se eleger, muitos nem procuram eleitor. Pegam o atalho e vão aos donos de currais eleitorais – oligarcas rurais, donos de oligopólios, traficantes de drogas, contrabandistas de armas, proprietários de igrejas. Eles fornecem dinheiro e votos. (Outro dia alguém garantia que a Bancada do Pó na Câmara tem quase 50 votos.)
Defeito nº 4 – Como é escasso o contato entre o eleitor e o candidato, frequentemente o voto é resultado de informações truncadas de meios de comunicação. Em eleição majoritária isso é um perigo.
AS GRANDES MUDANÇAS
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Teóricos da democracia andam atentos à questão da representação política. O interesse decorre de vários fatores.
Primeiro, mudou o panorama – a representação eleitoral agora compete com novos tipos de representação informal. Vejam os líderes dos professores. Eles não têm mandato, mas venceram a quebra de braço contra o governo. Associações de bairro formam líderes que frequentemente têm mais força política do que vereadores e deputados. Os caminhoneiros pararam o Brasil com lideranças que ninguém conhece direito.
Segundo, aumentou a preocupação com a qualidade da representação eleitoral. O voto de minorias e mulheres está cada vez mais focado em problemas específicos.
Terceiro, há um novo modo de fazer política dentro da estrutura democrática. Exemplo: os observatórios sociais, entre eles o Observatório Social de Maringá, que serve de modelo para dezenas de outros. É integrado por pessoas preocupadas com o mau funcionamento do governos. Graças às redes sociais compararam preços, identificam fraudes, encanam corruptos. O site Contas Abertas faz mais pela democracia do que a maioria dos partidos políticos.
Por último, a participação vem ganhando importância e a representação nasce de outras formas de cidadania. A própria palavra cidadania aparece com maior frequência e é mais bem entendida entre os diferentes grupos sociais, que valorizam formas de representação não eleitoral.