A greve, o locaute, o boicote

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Os automóveis são responsáveis por apenas 27% dos deslocamentos, mas ocupam 80% das ruas e avenidas. É a privatização da via pública.

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Falando em ônibus, é bom lembrar que toda greve é paralisação, mas nem toda paralisação é greve.

O nome muda cada vez que muda o sujeito da decisão. Vamos lá:

. Greve. Para tudo porque o sindicato dos trabalhadores decidiu.

. Locaute. Para tudo porque os patrões decidiram. (Há locautes disfarçados de greve.)

. Boicote. Para tudo porque os consumidores decidiram.

Boicote é mais difícil, porque consumidor é um adepto de ações individuais. Claro, existem associações de consumidores, mas quem participa delas? Há cooperativas de consumo em áreas muito específicas.

Tem gente achando que Curitiba deve boicotar os ônibus até o serviço se reorganizar e voltar ao padrão de 20 anos atrás. Para isso, faltam duas coisas: uma vontade geral e uma liderança. Em compensação, as redes sociais facilitam a mobilização.

Como foi o boicote dos ônibus em Montgomery, Alabama, em 1955? A resposta está em Rosa Parks Story, filme de 90 min exibido pela CBS, em fevereiro de 2002, para celebrar o Mês da História Negra. O filme está no YouTube.

Havia um motivo para promover o boicote – os Direitos Civis; existia uma sociedade negra em luta organizada contra a segregação racial e havia uma líderança, a National Association for the Advancement of Colored People (NAACP), onde militava Martin Luther King.

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Uma questão filosófica. Frequentemente há debate entre os defensores da Teoria do Grande Lider e os da Teoria dos Grandes Eventos. Os primeiros argumentam que certas pessoas nasceram destinadas à grandeza, enquanto os últimos defendem que a “grandeza” surge quando pessoas comuns são levadas a desempenhar papeis em eventos extraordinários.

O boicote dos ônibus de Montegomery, de 5 de dezembro de 1955 a 20 de dezembro de 1956, teve um efeito decisivo na questão dos direitos civis. Ao final, a Suprema Corte derrubou a lei que segregava os ônibus e obrigava negros a ceder lugar para os brancos.
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Quem fica com a glória? Hoje, a vitória é atribuída a um líder, o pastor Martin Luther King. Não é verdade, ou melhor, não é toda verdade. Para começar, a reação contra a segregação vinha de longe. Rosa Parks não foi a primeira a ser presa por não ceder o lugar. A comunidade negra se organizou através da NAACP.

Ao determinar o boicote, os líderes do movimento não sabiam se teriam sucesso. Foram vencendo aos poucos, ao conquistar o apoio dos usuários, que organizaram o compartilhamento de carros; dos taxistas negros que decidiram cobrar dos usuários de taxis compartilhados a mesma tarifa do ônibus; de pastores que pregaram o boicote e promoveram frequentes reuniões nas igrejas para mantê-lo; da comunicação organizada pela Women’s Political Council (WPC), através de volantes distribuídos nas ruas e nas igrejas.

Mas precisavam de Martin Luther King, pastor de 26 anos, da Igreja Batista da Avenida Dexter, grande orador – firma, corajoso, catalizador.

As duas teses se completam. Em Montgomery havia o líder que a grandeza do momento pedia e havia pessoas comuns, mobilizadas porque entenderam o momento, desejaram o Grande Evento – e assumam seus papeis no movimento coletivo.

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