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Quem gosta de jazz deve assumir o compromisso de assistir a Whiplash.
Quem sabe que Caravan (1937, Duke Ellington e Juan Tizol) é uma das dez musicas mais importantes da história do jazz precisa correr ao cinema agora.
Quem já sonhou tocar bateria como Buddy Rich ou Jo Jones – e jamais entendeu a diferença entre o grande jazzista e o batera de banda de rock – está intimado a cancelar sua agenda para encarar duas, três sessões.
Era para ser um daqueles filmes de aluno-e-professor, meu tipo inesquecível, A Sociedade dos Poetas Mortos. Nada disso, é o contrário. O filme defende a tese de que bulliyng funciona.
O cenário é o melhor conservatório músical de Nova York, onde atua o professor Fletcher (J.K. Simmons), um antididata cruel, homofóbico, antissemita. Ele abusa da gritaria, pressão e emulação para levar o aluno Andrew (Miles Teller) além do limite e alcançar a genialidade.
Imagine um sargento instrutor do Bope.É o estilo Fletcher. Ou um mestre-escola do tempo da palmatória. Fletcher. Ou, no futebol, o retorno aos métodos do Dorival Knipel, o Yustrich, aquele que foi técnico do Coxa e dava tapa na cara de jogador. Fletcher dá na cara do aluno que não tocou no tempo certo.
Incrível: o método da porrada dá certo – o aluno também acredita que qualquer coisa vale na busca da perfeição.
É isso que torna grande esse drama de 3,3 milhões de dólares, filmado em 19 dias por Damien Chazelle, um diretor que ainda não fez 30 anos. A história dessa produção é meio heroica. Sem dinheiro para a finalização, Chazelle editou um curta metragem, que inscreveu no Sundance Film Festival e ganhou o prêmio de melhor curta. Logo em seguida, o diretor obteve financiamento que faltava. Também autor do script ele habilmente escapa das soluções fáceis e alcança um grande momento no final.
Quer adjetivos para o final, ao som de Caravan com seu complicado compasso 7/8? Falso, mas arrebatador! Assim, com ponto de exclamação e tudo.
Um crítico disse que Whiplash foi o melhor grande filme não relacionado para o Globo de Ouro. Pode acontecer a mesma coisa no Oscar. Mas o trabalho de Chazelle tem méritos para ganhar indicações de melhor ator coadjuvante, trilha sonora, e talvez o roteiro ou edição.