.
O gerúndio não é crime.
.
.
Parece exagero, mas jamais esqueci um texto de Ferreira Gullar, de 1995, em que ele contesta as regras gramaticais, “coisa de gente pretensiosa que precisa se impor às outras falando arrogantemente correto”.
O poeta garante que isso é errado. A pretensão “oculta um preconceito de classe, uma discriminação contra aqueles que não tiveram oportunidade de estudar e, por essa razão, não podem falar como os que usufruíram do privilégio burguês, ou pequeno-burguês, de estudar gramática, o que vem acentuar a injustiça social.”
O ensinamento do hoje acadêmico Ferreira Gullar foi devidamente copiado e guardado aqui na minha frente. Agora puxei a anotação porque achei na internet um conselho de um desses gramáticos de Internet, o professor Romero Machado. Ele não quer que o leitor escreva, por exemplo, Vou estar agendando o seu nome.
“Evite o gerundismo na frase, que é o uso de uma locução verbal, ou seja, verbo auxiliar + verbo principal no gerúndio – aconselha o professor. E explica: “ O melhor é usar a forma sem o gerúndio: Vou agendar o seu nome.”
Coincidência: naquele instante, na BandNewsFM, entrou no ar o professor Zaki Akel, reitor da Universidade Federal do Paraná para explicar o novo sistema de divulgação do resultado do vestibular.
Antes era no radinho. O locutor levava horas lendo nome por nome dos aprovados.
Depois virou impresso. Todo mundo comprava o jornal. Agora, quem tem computadores, tablets ou celulares no sistema operacional Android podem estar acessando os resultados em seus equipamentos.
O reitor falou: “Os que têm Android podem estar acessando os resultados”.
Magnífico reitor o nosso, mestre da democracia gramatical. Ele poderia estar no time dos pequeno-burgueses estudados e preconceituosos, porque possui graduação em Administração pela Universidade Federal do Paraná, mestrado pela Universidade Federal do Rio de Janeiro e doutorado pela Universidade de São Paulo.
Mas não esnoba ninguém. Ao contrário, é gerundista juramentado.