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A reconstrução do World Tower Center é um feito épico. Glória a ti, Gothan City! O planeta boquiaberto admira a maior obra arquitetônica de uma história que começou com a Pirâmide de Queops e a Grande Muralha da China. Aqui há décadas de pesquisa em novos materiais e em processos construtivos.
Mas é antes de tudo um gesto de arrogância política, quase um ato de guerra. Foi difícil a decisão sobre o que fazer naquele espaço. Muitos queriam torná-lo um Jardim da Paz. Foram vencidos pela maioria que resolveu construir um prédio bem mais alto, naquele mesmo canto da ilha Manhattan e desafiar o inimigo que derrubou as Torres Gêmeas. Há melhor jeito de mostrar que o Império é forte e contra-ataca?
Reconstruir em prazo recorde é essencial para provar tudo isso.
Imagine se um juiz-sem-juizo, que aqui também os há, concede liminar e paralisa a obra em benefício de um construtor derrotado na concorrência.
Peregrinos chegam de toda parte. Também querem testemunhar contritos a ressurreição da torre. Vi duas coreanas chorando ao ler, gravado no aço que cerca o enorme lago, os nomes das milhares de vítimas do terrorismo. Namorados tiram selfies, o prédio ao fundo. A família de São Domingos termina de comer os kebabs e posa para a foto. Um velhíssimo aposentado de Iowa faz continência para os policiais, que são centenas em torno do Ponto Zero, com suas pistolas, rádios, sinalizadores, lança-granadas.
Fique atento. Observe tudo. Comunique o que viu. Aviso aos patriotas: quem realmente ama seu país não hesita em comunicar seu temores e em soar o alarme toda vez que percebe a aproximação do perigo. Quem disse isso há dois séculos foi Samuel Johnson. Nada tão atual.
Aponte seu dedo duro e comprido para o mal se você realmente deseja que ele seja removido de nossas vidas.
As câmeras ficaram incontáveis. As dos turistas, as dos repórteres e as do circuito de vigilância, big brothers de um show 24 horas no ar – mais 6 horas para chegar por mar,por terra, pelo ar. Estrelado por milhares de turistas, policiais, operários em construção, iluminadores (o serviço não para à noite), fornecedores de alimentos, garis, entregadores de banheiros de emergência, vendedores de souvenirs, pregadores evangélicos.
Só não há burkas.
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