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Curitiba está escrevendo seu Plano Municipal de Cultura desde ontem, quando começou a Conferência Municipal Extraordinária de Cultura, na sede da Ordem dos Advogados do Brasil. Não é fácil.
Primeiro, porque os participantes enfrentam o jargão político/burocrático – “eixo temático”, “arco da sociedade civil” ou “territorialização, descentralização e participação como estratégias de gestão” (extrai os termos do Plano da Secretaria de Cultura da Bahia, um dos modelos adotados pela Conferência).
Segundo, porque há muitos interesses políticos em choque – o ano é eleitoral.
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Saul Dorval, representante do movimento negro, lançou sua pré-candidatura ao Senado pelo PMDB na sessão de abertura. Um discurso forte contra Beto Richa. “O governo do Paraná não discute cultura negra no Estado onde os afrodescendentes são 28% da população”. Com isso, não só a candidatura de Marcelo Almeida fica ameaçada mas todo o propósito do encontro.
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No Brasil, a cultura ainda depende do mecenado do Estado. Nos países anglo-saxões é diferente.
Você entra no Lincoln Center, em Nova York, e nota que cada poltrona tem uma pequena placa na parte trazeira. É o nome da pessoa ou da família que doou para construir aquele auditório. No interior do Ohio, achei um enorme ginásio (piscina de 50 metros aquecida, salas de musculação, tudo) erguido com dinheiro do dono da indústria ao lado.
Doação testamentária no Brasil é temida pelo que aconteceu no passado. As famílias entregavam seus bens a entidades como as Santas Casas de Misericórdia e os gestores não eram capazes de administrar a doação.
O pior é que o Estado-Mecenas não tem capacidade nem recursos para cumprir sua missão cultural. Nem vontade, quando o ano é político.
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P.S. – A dona majoritária da sociedade proprietária do Luna Park, Ernestina de Lectoure, faleceu aos 95 anos de idade, no último mês de fevereiro, e deixou o mítico estádio em partes iguais para a Cáritas e os salesianos, informam fontes da Arquidiocese de Buenos Aires. Vamos ver o que acontece.