Cuidado, Curitiba – um ciclista foi morto a canivetadas por um motorista

bikke

A era do atropelamento acidental pode estar no fim.

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A bicicleta de Marcos Rocha, 32 anos, teria esbarrado no carro de Edson Correia, 35 anos. O motorista desceu do carro e matou o ciclista a golpes de canivete. Inaugurou uma nova etapa nas relações entre os condutores de veículos de duas e de quatro rodas.

O método tradicional era passar por cima. Brincava-se (brincava-se, bárbaro?) que no antigo Touring Club havia um pôster provocador: Já atropelou seu ciclista hoje?

(Deixem-me explicar o Touring Club, que ficava na esquina de Carlos de Carvalho com Cabral. Ele não era Touring porque não promovia tours; e não era Club porque jamais congregou automobilistas – apenas vendia serviços e seguros. Era entretanto um símbolo de status. “Sou do Touring” era quase como dizer “Sou do Curitibano”.)

Os ciclistas eram irritantes, mas não odiados. Postavam-se na frente dos carros sem medo. Na Curitiba dos anos 60, o atropelado podia ser sobrinho do atropelador.

A bicicleta não era um símbolo de liberdade, mas significava que o garoto de 13 ou 14 anos tinha chegado lá. Sabia se equilibrar sobre duas rodas e era proprietário de uma preciosidade fabricada na Itália, Alemanha ou na Tchecoslováquia.

Uma prova disso? Os desfiles colegiais de 7 de Setembro. No Colégio Santa Maria, éramos liderados pela banda de tambores, taróis e clarins e pela esquadra de ciclistas – entre eles meu amigo Luiz Gil Leão e outros garotos de sobrenome bacana.

Se você pedisse uma bicicleta a seu pai, ele podia dizer não e explicar que era um presente muito caro; jamais diria que era perigosa. Hoje ficou mais complicado explicar o motivo. As bicicletas são caras e perigosas. As de 7 quilos e US$12 mil, ficaram perigosissimas – é temerário circular com um veículo tão valioso.

Quer fazer o teste que prova isso? Pegue uma bicicleta de menos de mil reais, ponha uma camiseta de candidato a deputado e uma bermuda velha e saia por ai – você vai ficar invisível.
Houve quem matou para roubar bike na BR-277, onde era uma alegria pedalar cedinho em direção à Serra do Mar e, sobrando fôlego, até Morretes. Mas o cara não faz parte dessa história. Era um latrocida, matou para roubar.

Suspeito que crime de Santa Candida tenha sido mais que uma briga de trânsito. Quem perdeu a vida representava outro grupo. Se fosse possível entrar na cabeça do autor, talvez se identificasse um ódio de intensidade comparável ao dos assassinatos por motivo religioso, social ou racial.

Foi homicídio qualificado? Certamente. Assassinato por motivo fútil. Houve intolerância social? Provavelmente.

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