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Sai do cinema com a impressão de que o filme O Mordomo da Casa Branca, do diretor Lee Daniels (“A Preciosa”) é uma peça de propaganda política paga pela Casa Branca para tentar provar que a eleição de Barack Obama acabou com o problema da desigualdade racial nos Estados Unidos.
Um supercomercial da democracia americana, ao longo de 60 anos de luta contra a discriminação racial, meio no estilo Forrest Gump, estrelado por Oprah Winfrey e Forrest Whitaker, no papel do mordomo que atendeu a oito presidentes dos EUA.
Um supercast em rápidas aparições incorpora alguns presidentes americanos: Robin Williams (Eisenhower), James Marsden (Kennedy), Liev Schreiber (Johnson), John Cusack (Nixon) e Alan Rickman (Reagan) ; Jane Fonda faz Nancy Reagan.
O Mordomo da Casa Branca não é apenas propaganda – é inverdade. Não é preciso um Phd em sociologia para saber que a desigualdade nos EUA não acabou, só ganhou novas cores. Em vez de negros, os oprimidos agora são imigrantes ilegais, sem direitos trabalhistas, sem acesso à saúde pública, sem simpatia da polícia. Vêm da América Latina para limpar privadas de restaurantes das grandes cidades e para trabalhar na cozinha dos brancos do Texas, Califórnia ou Flórida.
O editor da New Yorker Handrik Hertzberg, que foi, em 1976, redator de discursos do presidente Jimmy Carter, caiu de pau na produção da Wenstein Company.
A opinião dele é curta e direta: o filme é realmente ruim, de mau gosto, manipulativo, sentimental e, em certos momentos, implausível.
Hertzberg pergunta: qual a possibilidade de o principal mordomo da Casa Branca não apenas ter visto a mãe ser violada e o pai assassinado pelo filho de um fazendeiro de algodão (a mãe do criminoso é Vanessa Redgrave) como, ainda, ter um filho que se tornou:
Primeiro, um dos estudantes-heróis da Universidade Fisk nos sit-ins de Nashville;
Segundo, um dos Freedom Riders originais;
Terceiro, um auxiliar tão próximo de Martin Luther King que estava no quarto do motel de Menphis com Ralph Abernathy, Andrew Young e Jesse Jackson quando King foi assassinado;
Quarto um Pantera Negra de boina em Oakland;
Quinto, um candidato derrotado ao Congresso;
Sexto, um líder do movimento pela libertação de Mandela;
E, sétimo, um candidato vitorioso ao Congresso?