Ai de ti, Curitiba
.
O bom tempo passou, a represa secou. (Foto BemParaná).
A Sanepar acelera as obras da Barragem do Miringuava, em São José dos Pinhais, na Região Metropolitana de Curitiba, diz a notícia vinda do Palácio.
Por que não acelerou antes, Sanepar? A segunda etapa do Miringuava está prevista desde 1998, quando a Renault inaugurou a primeira fábrica em São José dos Pinhais.
Agora está na quarta.
Era fácil prever o futuro. Com a montadora vêm os fornecedores. Os empregados se instalam por perto. É preciso mais água e esgoto.
Não bastasse a Renault, chegou a Volks-Audi. Mais fornecedores, mais trabalhadores, mais casas em São José e na Região Sul de Curitiba.
Todo empavonado, o Paraná fez festa quando chegaram as montadoras. Fez festa só, não: fez acessos viários, construiu linhas de transmissão, ampliou o aeroporto, além de diferir o pagamento de impostos e intermediar financiamentos do BNDES. Só não fez a nova represa.
Agora a coisa está desse jeito: o sistema de coleta, tratamento e distribuição de água não atende a todos. Inventaram o rodizio, apelido bonitinho para racionamento. E repetem promessas. “É para dezembro”, sem falta.
Ficamos sem água e sem chuva, o Rio Belém cheirando cocô, rodeado de covids nesse inverno quente. Flagelados da seca. Na esquina uma mulher acena com um cartaz de cartolina: ESTOU COM FOME.
Parece a Curitiba dos textos do Dalton. Ai de ti, cidade metida a ecológica, que tentou ser a Capital Social do Brasil. Os famintos se aglomeram na Praça Tiradentes. Mantenham-se em fila para a sopa da igreja.
Vieram todos – até os suicidas que se lançaram nas cavas e deram com a cara no lodo.
Não desesperem, os trabalhos acontecem em ritmo acelerado, dia e noite, propagandeia a comunicação do Ratinho. A companhia de água divulga um vídeo sobre “o estágio atual da construção”. E ameaça: “Cada vez que você lava as mãos com a torneira aberta são 7 litros de água”.
Que tal lavar com a torneira fechada? Curitiba, a inovadora, lançaria a Operação Mãos Sujas.
Deixe um comentário