Falta mingau
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Rodrigão no meio dos alagoanos. (Gazeta Esportiva)
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No Alto de Glória o céu já foi azul mas agora é cinza. Saio do Couto sábado à noite com o coração pesado e o verso do Cazuza na cabeça. Ainda faltam 15 jogos, mas desse jeito não dá: havia pelo menos um cara bocejando em campo. Não sou só eu que sabe disso. A torcida também desacredita, tanto que só sete mil foram ao estádio. Na fase boa eram quase 30 mil por jogo.
No gramado, uma tragédia. O time não aprendeu a sair com a bola. Os zagueiros trocam passes laterais apavorados com a pressão dos três atacantes do CRB.
Aos nove minutos gol deles. Desespero.
O meio-campo Thiago Lopes tenta uma bicicleta na área e chuta o rosto do lateral Igor, aquele que era do Paraná. Igor segue de ambulância para o Hospital Cajuru e Thiago Lopes é expulso.
Três minutos depois mais um gol do CRB. Saída errada do Coxa.
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Na volta do intervalo o juiz expulsa um zagueiro alagoano. Dez contra dez.
O Coritiba melhora e cria oportunidades com Rafinha, Rodrigão e Giovanni. O goleiro Vinicius salva. Um cara do meu lado explica, didático: Ele está lá para isso.
Chutamos 29 bolas a gol contra 11 do CRB, mas o placar marca 2 a 0 para eles. Na saída, torcedores esperando pelo técnico e pelo presidente Samir Namur. Não é difícil advinhar qual dos dois vai perder o emprego.
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Vem ai um novo técnico, mas nada acontecerá se não houver uma injeção de ânimo na rapaziada. O João Saldanha olhava situações assim e diagnosticava na hora: “Falta mingau” – e a diretoria ia pedir dinheiro ao benfeitores do clube para pagar os atrasados. Às vezes era diferente: “Muita pimenta.” Mas isso no tempo em que havia doping.
É verdade que os jogadores do Coritiba precisam treinamento, mas antes impõe-se um tratado de paz entre os cartolas. Não é hora de derrubar o Samir. Eis a receita para subir à serie A:
Dormir oito horas, comer direito, chegar cedo e sair tarde do treino. Não ir à balada até dezembro.
Com treinamento, aprenderão a trocar passes. O meio campo se deslocará para receber a bola (Gentil Cardoso: “Quem desloca recebe, quem pede tem preferência”), os armadores descobrirão o ponta aberto e o passe de 30 metros chegará até ele, certinho. Aí é só ir à linha de fundo, cruzar para trás e esperar o Rodrigão fazer o que sabe.
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P.S. – Colei novo post it com anotações no livro “A Pirâmide Invertida, a História da Tática no Futebol”, do jornalista inglês Jonathan Wilson, tradução de André Kfuri. Devia ser a bíblia de todo torcedor. Começa com uma citação de Virgilio: Felix qui potuit rerum cognoscere causas (Afortunado é aquele que compreende a causa das coisas.)
E termina com o Cesar Menotti explicando: “O objetivo do treinamento é aumentar a velocidade com que um time consegue manter a precisão.”
Lendo o Wilson, ninguém mais assistirá a um jogo de futebol como antigamente.
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