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Pensando nas pesquisas

Mauro Paulino, diretor do Datafolha Mauro Paulino, diretor do Datafolha

 

 

O Roda Viva, da TV Cultura, entrevistou o diretor do Instituto Datafolha, sociólogo Mauro Paulino, sobre as pesquisas desta eleição. Alguns tópicos:            

Divulgação de pesquisas. Existem vários projetos no Congresso limitando a divulgação de pesquisas eleitorais. Todos inúteis. A Constituição garante e o bom senso aconselha a liberar toda informação que nos ajude a votar com mais clareza. Mesmo na véspera da eleição.

O erro que a lei brasileira comete é permitir a divulgação parcial da pesquisa.

Ou não explicar ao leitor e aos jornalistas que existe muita informação importante no relatório de pesquisa além dos números que indicam “se a eleição fosse hoje, em qual desses candidatos o sr/sra votaria”.

Amostra precária. Importante também é saber que existe mais de um jeito de fazer pesquisa e mais de um jeito de construir a amostra que representa o conjunto da população.

Vamos começar pela segunda parte. A amostra geralmente é retirada do censo do IBGE. Quando o censo é recente, como acontece agora, a informação é de melhor qualidade. Mas à medida em que nos distanciamos da data do censo, o erro vai aumentando. Se o instituto quiser, pode gastar um dinheirinho do patrocinador para melhorar a base de dados comprando informações da companhia de luz, de água ou de gás. Listas melhores podem ser obtidas na própria prefeitura.

Na maioria dos países os dados censitários são melhores porque os moradores – proprietários e locatários – são corretamente identificados. No Brasil não há bons controles. Você pode vender sua casa e se mudar sem que o IBGE registre. Como o mercado imobiliário é muito dinâmico, a migração de moradores altera até mesmo as características socioeconômicas de uma região.

Tipos de entrevista. Além da base de dados precária, há o sistema de obtenção das entrevistas. O Instituto Datafolha entrevista as pessoas nas ruas. O Ibope vai nas casas. O pesquisador do Datafolha vai para a rua com a missão de entrevistar 15 mulheres da classe C. Para descobrir de são realmente na classe C pergunta o que elas têm em casa, se mora de aluguel, se tem carro etc. Pois é. E se a entrevistada mentir? Se, por vergonha, contar que tem carro e não tem? Que é dona da casa e não é? O resultado ficará distorcido.

As pesquisas de boa qualidade são feitas na casa do entrevistado. Isso não acontece em grandes cidades porque há problemas nas pontas. Os ricos se blindam em prédios e condomínios fechados. Os pobres vivem em favelas perigosas.

Outro bom sistema usado lá fora é a entrevista telefônica. É barata e rápida. Mas hoje 50% dos brasileiros não tem telefone fixo. E a TIM, Vivo e outras companhias não divulgam os telefones dos assinantes de celulares.

Rejeição. Mais do que a preferência, é fundamental mostrar a rejeição aos candidatos. Mas cuidado com a formulação da pergunta. Você pode:

A – Abrir um leque com o nome dos candidatos e perguntar em qual deles o entrevistado não votaria de jeito nenhum. Ou

B – Perguntar em QUAIS ele não votaria. Esse S faz grande diferença.

As perguntas. Há perguntas subjetivas – questões religiosas, aborto, casamento homossexual. E há as objetivas, ligadas ao dia-a-dia do eleitor, como o transporte público, o estado das calçadas e ruas, os assaltos, a eficiência do posto de saúde.

Numa eleição municipal, as objetivas valem mais. Ao eleger prefeito e vereadores o eleitor quer saber se vão resolver o problema da calçada, do ônibus lotado, da falta de um posto policial.

Se as questões subjetivas entrarem no relatório como a mesmo destaque das objetivas o público e a democracia sairão perdendo.

Posted on 30th outubro 2012 in Sem categoria  •  No comments yet

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