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Biógrafos, muckrakers e a liberdade de expressão

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codigo O artigo 20 do Código Civil não é o único nem o maior problema do Brasil.

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Tive um sonho.

Sonhei que a lista de best-sellers publicada ontem pelos jornais destacava os seguintes campeões de venda na área de não-ficção:

1 – Os 12 Malfeitos de Chico

2 – A Vida Secreta de Caetano

3 – Tudo que Gil fez para vencer na vida

4 – As Lamentações de Djavan

5 – A Completa Verdade sobre o Acordo com Roberto Carlos

E que, na entrada da Livraria Curitiba da Boca Maldita, seguranças suados lutavam para segurar a multidão que desejava os livros. A fila de clientes enlouquecidos não diminuia porque era tanta gente lá dentro que eles só entravam em grupos de dez.

-Lá na loja está muito quente, dona!

-Só cinco minutos para pegar o livro.

-Muito calor. Falta ar. Aquela mulher gorda saiu agora de ambulância!

-Com livro ou sem livro? Porque se saiu com livro vou lá dentro à força para pegar o meu.

Chega um radialista com seu gravador. A repórter de TV arruma a maquiagem no espelhinho. Fotógrafos, câmeras, ajudantes, vários Ninjas com seus smartphones. E a mulher desdentada pede dinheiro pra tomar uma pinga, porque não está ali pra mentir pra ninguém como fazem os políticos. Aposentados que ficaram sem ponto por causa da aglomeração discutem o direito à privacidade com um vereador – aquele que faz discurso em sistema de amplificação portátil. Alguém avisa que os black blocs estão vindo para cá e também a torcida do Coxa pedindo atitude, além de cinco observadores dos Repórteres Sem Fronteiras – uma variada multidão atesta a popularidade que o livro enfim alcançou neste pais de analfabetos funcionais.

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Fim do sonho.

Em Fortaleza, os doze maiores biógrafos da nação publicaram um manifesto denunciando – de novo – o cerceamento da liberdade de expressão garantida pelo artigo 5º da Constituição Federal. Enquanto o Código Civil tiver aquele artigo 20, haverá censura prévia. Pior do que na ditadura.

Tanto o Supremo como o Congresso analisam a alteração do Código Civil.

Mas a Carta de Fortaleza não vai resolver os grandes problemas do Brasil, que precisa de um momento-verdade como tiveram os Estados Unidos no final do século 19 e início do século 20.

Nascia o jornalismo investigativo. Grandes jornalistas fizeram denúncias corajosas e alteraram a estrutura da sociedade americana num período de trinta anos. Os adversários apelidaram os jornalistas investigativos de muckrakers, catadores de lixo, gente que está sempre olhando para baixo, à procura de sujeira, em vez de contemplar os largos horizontes.

A lista de reformas alcançadas entre 1900 e 1915 é impressionante. A prisão por dívidas foi abolida em vários estados; o sistema penitenciário ganhou reforma; lei federal regulou a qualidade do alimento vendido ao povo em 1906; leis sobre o trabalho infantil surgiram em vários estados; uma legislação trabalhista federal foi aprovada em 1906 e aperfeiçoada em 1910; preservaram-se reservas florestais; em 1902 veio o New Land Act, regulando a propriedade da terra; vários estados aprovaram leis limitando em oito horas a jornada de trabalho das mulheres; foi proibido o jogo nas corridas; 25 estados votaram leis compensatórios para os trabalhadores; os monopólios do petróleo e do tabaco foram abalados; salvou-se o Alaska da gula dos Guggenheims e outros capitalistas; novas leis regularam o setor de seguros.

Revistas eram a plataforma principal do jornalismo muckraking. Samuel S. McClure e John Sanborn Phillips criaram o McClure’s Magazine em maio de 1893. McClure lidera a indústria editorial ao cortar o preço do exemplar de 35 para 15 centavos. Ampliou o publico e atraiu patrocinadores com preço baixo, bons textos e ilustrações.

Outros expoentes do jornalismo investigativo eram Lincoln Steffens, Ray Stannard Baker, Burton J. Hendrick, George Kennan, John Moody (analista financeiro), Henry Reuterdahl, George Kibbe Turner, and Judson C. Welliver. Seus nomes adornavam as capas de revista ao lado de Upton Sinclair, G.W. Galvin, John Moody), Samuel Hopkins Adams, Josiah Flynt, Alfred Henry Lewis, Jack London, Charles P. Norcross, Charles Edward Russell, William Hard, Thomas William Lawson, Benjamin B. Lindsey, Frank Norris, David Graham Phillips,George Walbridge Perkins, Sr., Charles Edward Russell, George French.

Podem dar um google nesses nomes. Só tem fera. Teodore Roosevelt também virou fera. Escreveu no Scribner’s Magazine após deixar o governo.

O New York Times registrou, na Book Review desta semana, as boas vendas de THE BULLY PULPIT, de Doris Kearns Goodwin. (Simon & Schuster.) O livro trata da relação entre Theodore Roosevelt e William Howard Taft e as atividades da imprensa muckraking. Custa 24 dólares. E vale cada dólar que custa.

Posted on 18th novembro 2013 in Sem categoria  •  No comments yet

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