Na laibrari
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Há sete mil imóveis vazios na cidade de Curitiba.
Quem os comprará? O prêmio Nobel de Economia Robert Shiller acaba de advertir para a existência de uma bolha imobiliária no Brasil. Ela pode explodir após a Copa do Mundo.
Tornou-se patética a luta para passar o imóvel para frente antes da tragédia. Anos atrás, bastava dizer que o apartamento tinha três vagas de garagem. Pronto, negócio fechado. Hoje, com esse trânsito parado, vaga em garagem deixou de ser uma informação decisiva.
Também tem resultado duvidoso a notícia sobre a “piscina com deck solarium”. Acabo de ver na tela que nossa cidade ingressou em uma área de baixa pressão atmosférica, com instabilidade durante os próximos dias e chuvas moderadas a fortes acompanhadas de descargas atmosféricas.
Solarium para que, cara pálida?
Encontro a seguir outra oferta tentadora: um home fitness. Exclusivo? Claro que não, homem de condomínio. Aquelas duas bicicletas ergométricas são para todos os 30 moradores. Logo imagino meu vizinho gordo resfolegando sobre a bicicleta da esquerda (a da direita está quebrada há mais uma semana). Ele vai pedalar durante os próximos 60 minutos arf arf.
E por que tanto inglês?
Sábio era Noel Rosa, que escreveu: “Essa gente hoje em dia/Que tem a mania de exibição/ Não se lembra que o samba/ Não tem tradução no idioma inglês/ Tudo aquilo que o malandro pronuncia/ Com voz macia/ É brasileiro, já passou do português”.
Mas o construtor (ou será o redator do anúncio?) não resiste e informa que o apartamento já vem com pontos para instalação de home theater, isto é, de uma smart TV com tela de 55’.
Mais agradável seria voltar a falar em cineminha em casa, que combina com o engarrafamento lá fora. O termo surgiu na década de 60, quando o presidente Janio Quadros tomava porres pantagluélicos no cineminha do Palácio Alvorada. Há quem diga que foi numa sessão dessas, sob a ação dos espíritos, que decidiu tentar o fracassado golpe da renúncia.
É errado dizer que corretor de imóveis é fissurado em termos ingleses. Outro dia li a oferta de duas demi-suites com boudoir. Ia começar a pensar em lubricidades quando descobri que o boudoir do anúncio era apenas uma honesta pia para lavar o rosto enquanto outra pessoa ocupa o banheiro.
Não quero nem discutir a utilidade de oferecer uma pista de jogging na Ecoville, que fica ao lado do Parque do Barigui. Non sense. Importante é falar da library. O incorporador jura que o imóvel ostenta uma library, palavra ainda não digerida pelo grosso do povo. Mesmo os bacanas vacilam. Portanto, corre-se grave risco.
Imagino a empregada (maid?) informando a alguém que tocou o telefone.
-Pardon, madame, minha patroa está na laibrari.
-Onde?
-Na laibrari.
-Mas é a terceira vez que eu ligo.
-Pois é. Nas outras ela também estava fechada na laibrari.
-Que horror! Será que foi alguma coisa que ela comeu ontem aqui em casa?
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