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Lucky Guy, o tabloide sobrevive no carisma de Hanks

 

desfocada A imagem distante e meio desfocada do astro vale a hora de espera.

 

Quem viu, viu. Cara de sorte. A peça Lucky Guy, de Nora Ephron, dirigida por George Wolfe, é um dos espetáculos mais bem sucedidos da história do teatro americano. Estreou no dia 1º de março, no Broadhurst Theatre, na 44, com Tom Hanks liderando o elenco no papel do jornalista Mike McAlary. Agora, no dia 3 de julho, encerra a temporada. Não por falta de público, todos os dias o teatro está lotado. Falta de agenda para Hanks, que faz seu debut na Broadway.

De qualquer forma, os produtores não têm do que se queixar. O orçamento da peça andou pelos US$3,5 milhões. Foi pago nas 18 pré-estreias com todos os ingressos vendidos a preços especiais.

A história de McAlary, dos tabloides novaiorquinos da década de 80, do jornalismo de manchete, é difícil de contar, ou melhor, de recontar. Todo mundo já ouviu a saga do jornalista sem medo e sem limites, que vive entre a redação e o bar. Os dois ambientes eram muito enfumaçados nas décadas de 80 e 90, quando McAlary fez uma carreira de sucesso como colunista dos dois principais tabloides de Nova Iorque, o Daily News e o Newsday. (Por sinal, o diretor Wolfe usa a máquina de gelo seco com humor e oportunismo).

Nora Ephron ainda estava trabalhando no texto quando morreu, em junho do ano passado. Por isso, falta um retoque final nesse trabalho, que é sobre o sonho e a notícia – nem sempre os dois combinam. Nora é cética. Numa entrevista zombou do jornalismo, sua primeira profissão: “Contar a verdade, que pretensão!”

Nessa nossa profissão, existe o fato e a versão impressa – entre uma coisa e outra há um largo espaço para interpretação, distorção e omissão. O repórter McAlary discorda: “Nós fazemos o primeiro rascunho da História!” diz aos seus companheiros de redação e de bar. Eles gostam da companhia um do outro. E gostam mais ainda de competir pelo furo, pela entrevista exclusiva.

Na verdade, gostavam.

Os tabloides ainda mostram de vez em quando seus cadáveres sem cabeça na primeira página, mas já não atraem leitores como antigamente. “Agora a gente sabe que um fato realmente ocorreu quando aparece no jornal da noite”, diz um dos reporteres, enquanto engole outro gole de uísque e acende mais um cigarro. Fuma-se muito no palco aqueles cigarros de vapor.

Graças principalmente a Hanks e a Nora Ephron, a peça ganhou seis indicações do Toni, maior prêmio do teatro americano. Um resultado a altura de McAlary, que recebeu o Prêmio Pulitzer, em 1997, pelas reportagens denunciando a violência da polícia de Nova Iorque, que sodomizou o imigrante haitiano Abner Touima.

Depois de cada apresentação de Lucky Guy, pequenas multidões aglomeram-se em frente do teatro para esperar a saída de Tom Hanks. O número é maior do que o de qualquer outro espetáculo. Há muita identidade entre o astro e o americano comum. Ele é amado. Para o público, Tom Hanks não é um símbolo de sex appeal ou poder, mas de decência, de compromisso com a coisa certa.

E a verdade é simples e doída: o tabloide está morrendo. É vítima do jornal da noite, da tv a cabo e da internet. Mas no imaginário do povo americano ele sobrevive como a esperança de que, na cidade polarizada entre ricos e pobres, brancos e negros, bandidos e tiras, vive um jornalista providencial, um super homem, uma Lois Lane, para denunciar as injustiças e mostrar o caminho.

 

 

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Posted on 18th junho 2013 in Sem categoria  •  No comments yet

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